Como diria o velho bordão, lá vem a “mulher linda, moderna que sabe o que quer, faz, acontece e faz acontecer”. Comecemos com a plural Giovanna, por ela mesma. “Vejo-me nos versos de Flávio Venturini, sou o olho que ‘olha para o céu, tantas estrelas dizendo da imensidão, do universo em nós’ ou o olho que lê; ‘o horizonte de utopias que nos fazem caminhar para além das montanhas’, como bem diz (o jornalista e escritor uruguaio) Eduardo Galeano sobre a função da utopia. De tantos universos da imensidão que cabe em mim, escolhi a moda como forma sensível de diálogo com a cultura, com a vida e com o outro.

Ela é fio condutor que conecta a valorização da nossa rica identidade cultural, com as dinâmicas contemporâneas do mercado. Hoje vejo que minha trajetória costura cultura, mercado e políticas públicas, principalmente após ar pelo Consec. A costura, com a linha e o linho, continua com o mesmo Consec, a pela história, o presente e o futuro da Moda; este elegante e criativo motor da Economia e da Cultura. Por fim, Giovanna vai explicando o que ela faz, o que é, o que pensa, quem é, de onde veio e para onde quer ir. Vamos juntos?

O que é e o que faz o Consec/MG?

O Consec/MG é o Conselho Estadual de Política Cultural de Minas Gerais. É um espaço de diálogo e decisão que reúne representantes do poder público e da sociedade civil para elaborar, definir e fiscalizar as políticas culturais do estado.

Você foi conselheira? De quando a quando?

Sim, fui conselheira da cadeira de moda de Minas Gerais por cinco anos, 2.100 dias, no período de 2018 a 2024, eleita por voto direto e participação popular, também fui conselheira titular da região Sudeste no Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC, no período de 2019 a 2022.

Como foi tua agem pelo Consec/MG?

Fui a primeira eleita para cadeira de moda, desde que ela se tornou independente do Design. Foi um trabalho árduo, busquei tecer conexões entre a Moda e os outros segmentos culturais, defendendo a transversalidade e o reconhecimento do nosso setor como um importante vetor cultural e socioeconômico. Além de desconstruir a ideia de Moda enquanto “futilidade”, trabalhei para garantir recursos para a área enquanto cultura. O resultado, somente em 2024, foi mais de R$ 20 milhões para projetos culturais de Moda em Minas. Um feito inédito no Brasil. Além disso, criei o Fórum Estadual de Moda de Minas Gerais - FEMMG, fomentei grupos culturais de moda por todo estado e ampliei a visibilidade da Frente da moda Mineira - FMM.

A moda mineira já teve seu auge, fez história. E hoje? Como vai?

A moda mineira é emblemática desde sua origem, e sempre será o auge enquanto mantivermos os saberes manuais e locais da cultura de moda. Não vivemos de nostalgia. Ela pulsa! Ela honra e reconhece seu ado e segue adiante com outros e novos caminhos.

Novos talentos ou “nossos heróis ainda são os mesmos”? ]

Também não. Na moda é preciso, como em uma partitura, que algumas notas abram espaço para novos arranjos, entrelaçando ado e presente em novas composições. A Moda mineira é singular, produzimos do fio à peça final, unindo o tear manual à inteligência artificial. E a vitalidade do setor se comprova: economicamente, o último Minas Trend ecoou com R$ 30 milhões em negócios. Na cultura, de forma inédita na Política Nacional Aldir Blanc - PNAB, a moda aprovou mais de 364 projetos que dialogam com a sociedade e outras áreas da cultura.

Você conseguiu e como conseguiu valorizar a moda mineira aqui e no Brasil?

A valorização da moda mineira é um trabalho de formiguinha. Já na Moda do Brasil, participei da retomada do Setorial de Moda no Ministério da Cultura - MinC em 2024. Aqui em Minas, está tramitando na Assembleia Legislativa a criação do “Dia da Moda Mineira”, o reconhecimento das “Joias de Coco” e “Ouro de Diamantina” e o "Pano de Minas" como patrimônio imaterial.

A boa moda é democrática?

Uma coisa que temos de desmistificar é que a Moda é apenas para elite. Ela é ordinária e cotidiana, presente nas nossas escolhas diárias de vestir. A boa Moda deveria ser democrática. Ela pode e deve ser uma ferramenta de expressão, pertencimento, de aspiração e de imaginação para todos os gêneros, raças, classes, corpos e idades. Essa é a direção que buscamos. A Moda é extraordinária, exatamente por ser ordinária!

Um exemplo de moda com expressão cultural…

O resgate do "Pano de Minas" é um belíssimo exemplo. Mais do que um tecido, ele carrega a história da nossa vocação têxtil, os ofícios tradicionais da Moda e a identidade de diversas regiões do estado. Ao buscarmos seu reconhecimento como patrimônio imaterial, estamos valorizando não apenas um produto, mas toda uma cadeia de fazeres e significados culturais.

Como política pública inovadora…

A moda ser reconhecida como uma área da Cultura em pé de igualdade, nas políticas públicas de Minas Gerais, por si só já é uma grande inovação, frente a outros Estados. O Projeto de Lei da Moda Sustentável de Minas Gerais é também uma política pública inovadora, iniciativa de Suzana Rabello, buscando regulamentar práticas sustentáveis em toda a cadeia da moda; estamos não apenas cuidando do meio ambiente, mas também posicionando Minas como um estado atento às demandas do presente e do futuro.

Economia Criativa…

Prefiro enxergar moda como economia da criatividade, que é um conceito mais abrangente, que reconhece a importância da criatividade como um fator de desenvolvimento em diversas áreas, incluindo a Economia Criativa, mas também em setores tradicionais e em áreas como a educação e a Cultura. Fiz parte da elaboração do Plano Estadual da Economia da Criatividade, aprovado em 2024 pela Assembleia Legislativa de Minas. Lá estão aprofundadas as ações para solidificar a cultura de Moda no estado.

Como valorização do patrimônio cultural do estado…

Cada bordado, cada fio tecido, cada peça concebida com a alma mineira carrega um pedaço da nossa história e da nossa riqueza cultural. Moda é patrimônio quando se entende que o futuro se constrói com linhas do ado.

E hoje, como está tua atuação?

Sigo agitadora e ativista na moda, articulando todo o setor através do FEMMG e da FMM, como integrante do Núcleo Executivo. Mas mercadologicamente falando, atuo profissionalmente em três áreas: consultoria especializada, curadoria e produção cultural.

Giovanna Penido como consultora.

Consultoria em gestão social e marketing estratégico, nas áreas de Moda, Patrimônio, Artesanato e Design para instituições, associações e prefeituras desenvolvendo e implementando projetos estruturantes para o setor. E também, consultoria estratégica de posicionamento e “branding” para empresas e novos talentos da moda, do lançamento à consolidação de marcas no mercado. E ainda projetos de inovação em moda e artisticidade, como o BHOOM.

Como curadora de moda…

Minha curadoria busca conectar a moda a outras linguagens, criando novos olhares. Na 31ª edição do Minas Trend, selecionei 11 marcas autorais para o salão de negócios. Na mostra “Modernos Eternos”, atuei na programação cultural por três edições, unindo moda, design e arquitetura. Já em “Costurando Axé”, exposição sobre a indumentária do Candomblé, fui além da estética, destacando seu simbolismo e combatendo preconceitos, para celebrar a cultura afro-brasileira e promover a inclusão. Esses são alguns dos meus projetos nessa trajetória.

Giovanna como produtora cultural.

Além do trabalho de curadoria, também ofereço o serviço de produção executiva e gestão de projetos como o “Gerais Fashion”, “MOOD Festival de Moda de Belo Horizonte”, “Moda Autoral” e outros.

Planos para este “finzinho” de 2025?

Para esse “restinho” de ano, irei concretizar alguns projetos: uma plataforma para novas vozes na Moda belo-horizontina, uma homenagem aos talentos, à história do nosso setor e um projeto audacioso, ainda em segredo, de valorização da identidade mineira. E claro, seguir tecendo a FMM e FEMMG, afinal, rede desfiada não aquece ninguém…