O enfrentamento contra a febre oropouche tomou um novo rumo no Brasil. O Ministério da Saúde (MS) emitiu um alerta sobre o risco da doença especificamente para mulheres grávidas. Isso porque uma pesquisa do Instituto Evandro Chagas detectou a presença do anticorpo da febre oropouche em amostras de um caso de abortamento e outros quatro de microcefalia. A doença pode estar, então, relacionada à condição de malformação do cérebro do bebê, assim como acontece com a zika e a sífilis, por exemplo.
Segundo a nota técnica do Ministério da Saúde, há risco de transmissão vertical da febre oropouche, isto é, da gestante para o feto “desde os primeiros surtos identificados no Brasil”. A relação direta da infecção com a morte do bebê e os casos de microcefalia, no entanto, ainda carece de maiores análises. Por isso, a pasta da Saúde pediu às secretarias estaduais e municipais que intensifiquem a vigilância da doença e investiguem cada novo caso de microcefalia.
O que disse a pesquisa que investigou relação de febre oropouche com microcefalia em bebês?
O estudo do Instituto Evandro Chagas analisou amostras de soro e líquor – líquido que protege o cérebro e a medula espinhal – do feto e dos quatro recém-nascidos com microcefalia. Os exames descartaram a relação com outras infecções, como zika, chikungunya e dengue, como era o foco da pesquisa. No entanto, nas amostras, os cientistas detectaram a presença de anticorpos da febre oropouche.
A suspeita foi reforçada pelo fato de não terem sido identificadas nas mães outras possíveis causas de microcefalia, como sífilis. No feto, cuja morte ocorreu com 30 semanas de gestação, foi reconhecido material genético em sangue de cordão umbilical, placenta e diversos órgãos fetais (tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço). “Essa é uma evidência da ocorrência de transmissão vertical do vírus. Análises laboratoriais e de dados epidemiológicos e clínicos estão sendo realizadas para a conclusão e classificação final desse caso”, informou o MS.
Qual é a recomendação às unidades de Saúde?
Entre as recomendações feitas pelo Ministério da Saúde estão intensificar a vigilância nas fases finais da gestação e no acompanhamento dos bebês de mulheres que tiveram dengue, zika, chikungunya ou febre de oropouche, com coletas de amostras e preenchimento da ficha de notificação.
De janeiro a 6 de julho, o Brasil confirmou 7.044 casos da febre do oropouche. Em abril deste ano, o Ministério da Saúde já havia identificado alta nos casos no país.
De acordo com o órgão, neste momento, a transmissão da doença ocorre em mais da metade do país. Os estados são Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins. Antes, os casos ficavam s ao Norte do Brasil.
Nos casos notificados no Ceará, Mato Grosso do Sul e no Paraná, o local provável de infecção ainda está em investigação.
O que é febre oropouche?
A febre do oropouche é transmitida pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora. As larvas do mosquito se desenvolvem em locais úmidos, como as florestas tropicais, margens de rios, solos úmidos, buracos em árvores, matéria orgânica e lixo.
Meningite e encefalite são algumas complicações possíveis, principalmente em pacientes imunossuprimidos. O quadro clínico é semelhante ao da dengue e da chikungunya.
Entre os sintomas descritos para a febre oroupuche estão:
- Febre súbita;
- dor de cabeça;
- náuseas;
- diarreia;
- vômitos;
- dor muscular e nas articulações;
- sensibilidade à luz.
Os sintomas costumam durara cerca de uma semana. Contudo, eles podem retornar depois de 7 a 14 dias após o início da manifestação da febre, explica Flávia Cruzeiro, médica do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (Cievs-MG). “As recidivas ocorrem em até 60% dos casos”, diz.
Orientações para gestantes:
- Evitar áreas onde há muitos insetos (maruins e mosquitos);
- Usar telas de malha fina em portas e janelas;
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas;
- Manter limpos casa, terrenos e locais de criação de animais;
- Não deixar acumular folhas e frutos que caem no solo das casas, pois é convidativo aos mosquitos;
- Se houver casos confirmados na sua região, siga as orientações das autoridades de saúde locais para reduzir o risco de transmissão.
(com PATRÍCIA PASQUINI/ FOLHAPRESS)