Lixo no acostamento, vegetação precisando de poda, animais mortos pelo caminho e pedestres se arriscando em meio aos veículos que se amontoam em um enorme congestionamento. Este é o cenário encontrado pela equipe de O TEMPO, ao percorrer os 22,4 quilômetros do Anel Rodoviário de Belo Horizonte na manhã desta segunda-feira (9). O objetivo da travessia era perceber possíveis mudanças no trajeto após uma semana desde a conquista do poder municipal pela gestão do Anel, além de ouvir da população as principais necessidades que devem ser feitas pela Prefeitura de Belo Horizonte após anos de luta para conquistar a istração da rodovia que corta a cidade.

Para não dizer que a paisagem segue a mesma de uma semana atrás (ou de anos atrás), faixas com dizeres “Novo Anel. Novo capítulo. É a prefeitura cuidando de BH”, foram afixadas em quase todos os viadutos do caminho. Por cima delas, faixas sem autoria encobrem parte do anúncio da PBH, atribuindo a propriedade do Anel à população da cidade: “O Anel é nosso, é de BH. Obrigado, Fuad, Obrigado, Lula”, em referência ao prefeito que começou a disputa pela posse do Anel e ao atual presidente, pela concessão dada ao município.

Em meio a comemoração pela emancipação federal da via, projetos e planos se perdem à realidade de quem vive o Anel Rodoviário de perto, como é o caso do frentista Cláudio Cândido Batista, de 54 anos. Ele trabalha há oito anos em um posto de combustível às margens do Anel Rodoviário, no bairro Santa Maria, região Oeste de Belo Horizonte. Neste tempo, ele, que desacredita das mudanças prometidas, afirma já ter perdido as contas de quantos acidentes presenciou e comenta o que percebeu de mudança em uma semana de nova gestão. E a impressão dele não é positiva. 

“Antes, toda hora ava um carro da 040 (concessionária que istrava parte do Anel) monitorando as coisas por aqui, o transito sempre foi ruim, mas a gente via eles. Quando tinha acidente, rapidinho eles vinham, tiravam os carros, colocavam ali e o trânsito fluía, agora, acabou, não tem mais nada. Não tem mais esse e e ficou a Deus dará”, disse o trabalhador. 

Ele chamou a municipalização de fake news e disse estar cansado de tanta promessa. “Só prometem, prometem e não resolvem nada. Ainda mais nessa parte aqui. Quantos anos tem essa situação? Acidente lá no Betânia para tudo até aqui embaixo. Já morreu muita gente aqui. Fora o prejuízo material, né”, indaga.

Neste final de semana, o primeiro após a do documento que entrega a rodovia à gestão municipal, o Anel foi palco de mais um acidente. Desta vez, três motociclistas ficaram feridos após escorregarem em óleo que foi derramado na pista, na altura do bairro São Gabriel, na região Nordeste da capital. Devido ao atendimento a uma das vítimas, de 64 anos, o trecho - logo abaixo da faixa que anuncia a mudança na gestão - precisou ser parcialmente interditado, provocando congestionamento de 3 km, neste domingo (8), por volta de 13h. A Polícia Militar de Minas Gerais e o Corpo de Bombeiros atenderam à ocorrência.

Segundo a PBH, o acidente foi registrado no KM 1, exatamente no trecho que faz parte dos 4,1 quilômetros que continuam sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestruturas  Transportes (Dnit). Esse trecho está em obras de ampliação de capacidade, construção de marginais, restauração e melhorias na BR-381 - entre Belo Horizonte e Caeté -, que são conduzidas pelo governo federal. De acordo coma prefeitura, somente após a finalização das obras, o trecho será municipalizado.


Planos e ações


A municipalização do Anel Rodoviário acontece após uma longa negociação que começou ainda na gestão de Fuad Noman, que há dois anos procurou o governo federal para iniciar as tratativas. Ao final, ficou acertado que a prefeitura assumiria o Anel e em troca, o governo federal disponibilizaria R$ 110 milhões para recapeamento da via e a construção de dois viadutos, nas intersecções com a BR-040 e a Via Expressa. O recapeamento está em andamento.  Quanto aos viadutos, as obras ainda não começaram, mas a previsão é que estejam prontos no ano que vem. 


Entre lixo e veículos


A maior parte do Anel Rodoviário é margeado por canteiros com vegetação. Alguns, são ocupados por moradias irregulares ou viraram bota-fora para descarte de lixo e animais mortos. Nesta segunda-feira, foi possível notar que a vegetação está alta e seca. 

A PBH foi questionada sobre o trabalho de limpeza e conservação da via, bem como quais medidas serão tomadas com relação à população que vive à beira do Anel.

Em reposta, a PBH  disse que a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) atuará em conjunto com a Subsecretaria de Zeladoria Urbana (Suzurb), da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, ainda nesta semana.

Sobre desapropriação de áreas ocupadas no entorno, a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) informou que ainda não é possível precisar o número exato de famílias que ocupam a área municipalizada e que para isso, será necessária a conclusão da identificação das áreas de intervenção e das ações subsequentes.

A PBH disse que, neste momento, está concentrando esforços na realocação das famílias que atualmente ocupam as margens da BR-381. A prioridade é atuar em conjunto com o Dnit para definir as melhores estratégias e soluções para essas famílias.

Outro problema antigo observado ainda nesta segunda-feira é a falta de ibilidade para quem se desloca a pé pelo Anel. Calçamento irregular, arelas sem segurança, entre outros problemas levam os pedestres a se arriscarem em meio aos carros

“Não me sinto segura em andar aqui, porque os carros vêm rápido, tem motoqueiro que a por cima da calçada e a arela não é muito segura também. A sinalização é péssima”, reclama a auxiliar de produção Kelly Santos, de 26 anos. Na visão dela, a primeira etapa de melhorias é refazer as calçadas antigas e aumentar o trecho para os pedestres.

Nesta segunda-feira, agentes da PBH foram vistos apenas em um trecho do Anel pintando os gradis de uma das arelas de travessia de pedestres, na altura do bairro São Francisco, na região da Pampulha. Um dia após a municipalização e as promessas de maior segurança no Anel, vários guardas aram o dia na via.

A Prefeitura disse que Guarda Civil Municipal realiza patrulhamento preventivo, 24 horas, em toda a extensão sob jurisdição do município. Durante a operação, as equipes realizam patrulhamento constante no trecho, entre a Avenida Cristiano Machado até o bairro Olhos D’água - com pontos bases no Viaduto São Francisco, alça de o à Avenida Úrsula Paulino no sentido Vitória e região próxima ao bairro Olhos d’Água.

A metros do local onde os agentes renovavam a pintura, para quem segue em direção à Vitória, outra arela dá o tom de improviso e precariedade ao Anel Rodoviário. Nesse trecho, o borracheiro José Carlos, de 52 anos, afirma que o descaso público sempre foi comum, já que a jurisprudência da Via-040 ia do Olhos D´água à região Oeste, e não alcançava a área onde está a borracharia dele.

“Aqui é carro para baixo, para cima, acidentes para todo lado, não teve nenhuma diferença.  Quando tinha acidente, vinha o SAMU para atender o pessoal aí. Pra mim, tá do mesmo jeito. Ainda não surtiu nenhum efeito, mas espero que melhore, que eles notem a gente aqui”, clama.

A realidade de ver as melhorias, contudo, ainda não tem prazo para ocorrer. 

A PBH informou por meio de nota, que, mesmo com a conclusão da municipalização, é necessário aguardar a disponibilidade orçamentária federal, bem como cumprir etapas adicionais, como a celebração de convênios, análise de projetos e, posteriormente, a realização do processo licitatório para contratação das obras.