A inteligência artificial (IA) se tornou um assunto em voga no Congresso Nacional, nas escolas, na imprensa e nos escritórios quando chegou à palma da mão das grandes massas com o ChatGPT, no final de 2022. Mas ela é um conceito que data da década de 1950, em sua forma embrionária, e grandes empresas a utilizam há muitos anos, mesmo que os clientes não tenham noção disso.
Debater os usos da IA no cotidiano das corporações foi o tema do “Além do hype: como Localiza e Unimed-BH estão aplicando IA para gerar valor no dia a dia”, apresentado no Minas Summit, evento de inovação e negócios em Belo Horizonte, nesta quinta-feira (05/06).
Na Unimed-BH, os primeiros os com a IA começaram em 2017, anos antes do surgimento do ChatGPT, pontua o CIO da empresa, Luiz Cruz. “Hoje, temos um machine learning (aprendizado de máquina) que começou a entender realmente os nossos clientes e, a partir disso, ter capacidade de autorizar exames e consultas. Quando ele não tem todas as informações necessárias, há uma área de auditoria que faz a avaliação e autoriza. Para você ter ideia, em 2024, nós autorizamos 18 milhões de exames, consultas e cirurgias (com a tecnologia). Chegamos a 95% de exames e consultas autorizados a partir de inteligência artificial”, pontua.
Outra aplicação planejada pela empresa, por ora ainda em teste, é um sistema que indica o melhor percurso para o cliente, como teleconsulta, hospital ou outra unidade de saúde, a partir de algumas perguntas no app.
“Temos alguns projetos rodando para o melhor direcionamento para o cliente. São para direcionar a jornada dele a partir do momento que ele está em casa, a partir do aplicativo, de uma teleconsulta. Ele terá um direcionamento efetivo, em que economizará o tempo dele, não se frustrará e, com isso, a Unimed também, por outro lado, mantém os seus hospitais ou os seus prestadores com as pessoas que realmente têm necessidade de estar ali naquele momento”, detalha o executivo.
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Em outro mercado, a Localiza também investe em IA de formas nem sempre evidentes para o cliente. “Temos que lembrar que a inteligência artificial não foi fundada há dois anos com o ChatGPT. Há dezenas e dezenas e dezenas de modelos de inteligência artificial rodando no dia a dia na Localiza há mais de cinco anos. Principalmente IA preditiva e prescritiva, aquela em que você pega o dado histórico e prevê o que vai ocorrerá para frente em dada situação. Usamos em diversas jornadas na Localiza, como precificação, cobrança, crédito, como movimentamos a frota e em modelos de comportamento do motorista no carro conectado”, exemplifica o CTO da Localiza, André Petenussi.
A empresa também tem uma ferramenta disponível para seus 1.500 funcionários da área de tecnologia desenvolverem códigos com auxílio de uma IA. Do lado da IA generativa — que cria conteúdo, como o próprio ChatGPT —, em alguns casos o marketing da empresa utiliza imagens produzidas artificialmente em vez de modelos humanos e cenários ao vivo. “Temos uma ferramenta em que os profissionais conseguem fazer um prompt (um comando) e definir alguns atributos importantes de fotografia, como lente e abertura, e criar uma situação. Geramos alguns exemplos, eles escolhem dois ou três e, aí, essa essa imagem a por um pós-processamento que a deixa muito mais real e em um nível de qualidade apto para colocar em uma peça publicitária”, resume o CTO.
Minas Summit movimenta até R$ 70 milhões, estimam organizadores
O Minas Summit é um dos principais evento de inovação corporativa do estado e, em 2025, chega à sua terceira edição com ingressos esgotados para palestras e rodadas de negócios no BeFly Minascentro, no centro de Belo Horizonte. A expectativa dos organizadores é que ele possa gerar de R$ 60 a R$ 70 milhões a partir das negociações realizadas nesta quinta e na sexta (06/06).
“O primeiro papel do evento é trazer conhecimento, o que chamamos de informação atualizada, up-to-date, para dentro de Minas. O segundo é o networking. E também ver quais são as reais de aplicação da inteligência artificial no dia a dia das empresas. Como melhorar, como se tornar mais eficiente, como gerar emprego. O papel do evento é atuar como um catalisador”, sublinha o CEO do Grupo FCJ, Paulo Justino, um dos articuladores do encontro.
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Em meio a debates sobre inovação nas empresas e como líderes podem conduzir a IA em suas companhias, o cofundador da iniciativa de aprendizagem de IA Proteus Academy e ex-líder de IA do Ifood, Victor Salles, chama atenção sobre como os trabalhadores também devem se atualizar.
"O que enxergamos como tendência é um movimento um pouco parecido com o que vimos com o Excel nas empresas. Hoje, é muito difícil você ter um emprego de escritório sem ter um mínimo de domínio de uma ferramenta como o Excel e fazer uma planilha simples, usar algumas fórmulas etc. Nessa evolução da IA generativa, vemos um contexto de uso de agentes de IA para resolver tarefas do dia a dia. Então, a tendência é que todo mundo que faz esse tipo de trabalho de escritório será gestor de agentes de IA ou construirá os próprios agentes. O ideal é que consigamos ter essa capacidade de automatizar as pequenas tarefas e que sobre mais tempo para coisas estratégicas”, conclui.