MÚSICA

Mart’nália, Seu Jorge, Então, Brilha! e final do Mestre Jonas agitam pré-Carnaval em BH

Atrações nacionais e da própria cidade prometem embalar milhares de foliões com direito a muito humor, lirismo e descontração

Por Raphael Vidigal Aroeira
Atualizado em 14 de fevereiro de 2025 | 10:53

Mart’nália não nega fogo e elege a palavra “malemolência” para classificar a festa mais popular do país. “Acho que o Carnaval antecede verdadeiramente o início do ano. Aí, acabou férias, folia, é a hora de se concentrar para o futuro, mas eu trabalho sempre, então, para mim, o futuro é hoje, e sei que para várias pessoas também é assim. Mas tem essa malemolência que é própria da gente, né?”, diverte-se.

A cantora é uma das atrações do CarnaTherê, que, neste sábado (15), chega à segunda edição em Belo Horizonte com apresentações de Seu Jorge e dos coletivos locais Então, Brilha!, Asa de Banana e Bloco da Esquina, como parte do já agitadíssimo pré-Carnaval na cidade.

As canções do recém-lançado álbum “Pagode da Mart’nália” vão dar o tom do show da artista, a bordo de releituras de sucessos dos anos 1990 como “Que Se Chama Amor”, “Cheia de Manias”, “O Teu Chamego”, dentre outras, sem deixar de contemplar músicas que marcaram a carreira da filha de Martinho da Vila, a exemplo de “Cabide”, “Boto Meu Povo na Rua” e “Entretanto”.

Habituada a desfilar todos os anos à frente da bateria da Vila Isabel com o seu tradicional xequerê (instrumento de percussão criado na África), Mart’nália ite ser “mais ligada a escola de samba do que ao Carnaval de rua”, o que não a impede de “irar as diversas facetas dessa manifestação cultural”.

Brilha!

Vocalista e diretora artística do Então, Brilha!, Michelle Andreazzi relembra que, desde 2015, o bloco adotou um formato de banda que possibilitou à trupe atender a demandas crescentes para participação em festivais e eventos fechados. Ao longo da última década, aquilo que começou com “uma guitarrinha, cavaquinho, voz e bateria” ou a arrastar multidões, incorporando cada vez mais elementos ao cortejo.

Michelle promete brindar o público presente ao CarnaTherê com “pílulas do que é a potência do Carnaval do Então, Brilha!”. Um dos momentos mais ansiados pela plateia, segundo ela, é a execução do hino do bloco, que se tornou marca da folia numa capital “ainda resistente a se desenvolver a ponto de espelhar a nossa separação social”, diz.

“Por mais que a gente toque grandes clássicos do Carnaval, da axé music, as pessoas querem ouvir aquilo que é de fato nosso. Elas cantam juntas, é muito bonito ver esse sentimento de pertencimento do folião”, sublinha Michelle, que define como “ritual” o abre-alas momesco que o Então, Brilha! consagrou aos sábados de manhã.

“Enquanto sociedade, temos vivido cada vez menos momentos ritualísticos na nossa vida, e o bloco foi ganhando e proporcionando essa atmosfera do início de Carnaval”, aponta a cantora, que lança mão de palavras singulares para descrever esse acontecimento. “É uma magia, um encantamento, um momento ali do sonho, onde as diferenças ficam menores, e que havia na cidade antes, mas ficou adormecido por um tempo”, assinala.

Coisa nossa 

Michelle, aliás, é uma das finalistas do Concurso de Marchinhas Mestre Jonas, que, após um hiato de quatro anos, volta para comemorar a sua décima edição. Ela concorre na categoria Hit do Carnaval com “Tá Cá Cara Boa”, nesta sexta (14).

Idealizador da empreitada, Kuru Lima conta que o estabelecimento de um patrocínio financeiro sacramentou o retorno, assim como o “propósito do concurso, de abrir espaço para a música autoral de BH e de Minas dentro do Carnaval, falando das coisas que nos são mais preciosas”. Além disso, uma das grandes novidades do ano é a criação da categoria “Tira o Pé da Minha Serra”, como forma de refletir sobre a urgente temática ambiental e de protestar contra os avanços da mineração na Serra do Curral.

“O Concurso de Marchinhas Mestre Jonas é o projeto que possui, disparado, o conteúdo mais significativo do Carnaval de BH. Ele traz à tona as nossas questões mais caras, como o impacto da política, do comportamento e das questões ambientais sobre as nossas vidas. E tudo isso de uma forma leve, descontraída, sem deixar de ser crítico. É a nossa trilha sonora original, criada e nutrida por conteúdo genuinamente mineiro”, defende Kuru, que retoma marcos emblemáticos dessa trajetória, como o primeiro concurso, de 2012, responsável por levar ao público a irresistível “Coxinha da Madrasta”, do “já saudoso e querido” compositor Flávio Henrique, que morreu em 2018.

Terrorista 

Em 2014, os holofotes de todo o país se voltaram para o “Baile do Pó Royal”, que “brincava com a origem das drogas encontradas em um helicóptero pertencente a um Senador da República”, observa Kuru. Ele também destaca o “Baile do Cidadão de Bem”, de Helbeth Trotta e Jhê Delacroix, que, em 2017, “escancarou parte da hipocrisia que assombrou o país com seu moralismo de fachada”.

Vencedor do Concurso de Marchinhas Mestre Jonas em 2016 com “Não Enche o Saco do Chico”, parceria com Vitor Velloso, o intrépido Marcos Frederico está novamente no páreo com duas contribuições para o Carnaval, uma no terreno da sátira, e, a outra, no do puro lirismo.

Com “brilhante letra” de Daniel Zezé, a marchinha “A Tia Terrorista” viralizou na internet ao superar as 400 mil visualizações, com mais de 40 mil compartilhamentos. Marcos Frederico explica que a música “trata de forma jocosa os atos terroristas que deram errado naquele fatídico 8 de janeiro”.

“A tia representa todas aquelas pessoas que atentaram contra a democracia e tentaram instaurar um golpe de Estado, depredando bens públicos, obras de arte, trazendo um clima de terror para o país. A maioria desses vândalos está encarcerada. É tia terrorista, mas poderia ser um tio também”, sustenta.

Sonho 

Já “Mera Quimera” nasceu de um sonho do parceiro Rômulo Marques, em que Gal Costa aparecia. O letrista Murilo Antunes “captou a cena e a traduziu em poesia”, enquanto Frederico deu “alguns pitacos”, até fecharem a obra. Kuru garante que, em 2026, o concurso Mestre Jonas vai continuar.

“Não tem mais volta, podem preparar as suas marchinhas”, conclama. Frederico celebra o fato de, ao longo de dez anos, cerca de 150 marchinhas terem sido selecionadas para receberem “lindas interpretações e arranjos magistrais” de Thiago Delegado.

“O humor pode trazer à tona temas que muitas vezes am despercebidos. A sutileza do humor é capaz de clarear pensamentos e proporcionar novas reflexões. E, cá pra nós, nada melhor do que gargalhar e ser surpreendido por uma tirada inteligente”, arremata Marcos Frederico, ecoando um ensinamento do cartunista Henfil: “Humor é reversão de expectativa. Eles querem que a gente morra, aí a gente vai e vive. Isso é humor…”.

Serviço

O quê. Final do Concurso de Marchinhas Mestre Jonas

Quando. Nesta sexta (14), às 20h

Onde. Mercado Distrital (Rua Opala, Cruzeiro)

Quanto. A partir de R$20 no site www.sympla.com.br 

Serviço

O quê. CarnaTherê, com Seu Jorge, Mart’nália, Então, Brilha! e outros

Quando. Neste sábado (15), a partir das 13h

Onde. Parque das Mangabeiras (av. José do Patrocínio Pontes, 580)

Quanto. A partir de R$100 no site www.sympla.com.br