ESTREIA

Benicio del Toro faz um magnata em novo filme de Wes Anderson

'O Esquema Fenício' é mais uma obra da lavra de comédias extravagantes do diretor americano

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 29 de maio de 2025 | 07:37

Pode não parecer, mas “O Esquema Fenício” é um filme sobre espionagem. Estão lá os elementos essenciais do sub-gênero, como mortes suspeitas, agentes estrangeiros, viagens constantes, disfarces e, principalmente, uma ameaça que pode tirar a vantagem de alguém ou algum país no jogo geopolítico.

São as regras do jogo, mas Wes Anderson usa esses ingredientes para provocar uma sensação de estranhamento constante, a partir da fotografia (movimentos simétricos de câmera), da direção de arte (paleta de cores vibrantes), da interação dos atores e do próprio entendimento da história.

Desde quando chegou às nossas telas com “Três é Demais” (1998), comédia sobre a relação de um garoto nerd com um milionário entediado, ando pelos ótimos “Os Excêntricos Tenembaums” (2001) e “O Grande Hotel Budapeste” (2014), Anderson foi gradualmente tornando os filmes mais complexos.

E “O Esquema Fenício” exige muito do espectador, principalmente para compreender os desejos e emoções dos personagens. O protagonista é Zsa Zsa Korda (união dos nomes da atriz Zsa Zsa Gabor e do diretor Alexander Korda, ambos de origem húngara), um misterioso magnata internacional que surge acima dos países.
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A primeira cena é um primor: sob uma música tensa, vemos o interior de um avião em pleno voo, com dois personagens em lugares extremos. Um deles é Korda, vivido por Benicio del Toro, que a pacientemente as páginas de um livro quando ocorre uma explosão ao fundo e um assessor tem seu corpo partido ao meio.

O magnata é apresentado desta forma, sofrendo um atentado e, pela enésima vez, sobrevivendo a ele – e outros ataques parecidos surgirão ao longo da narrativa, como um embate engraçadíssimo com o irmão interpretado por Benedict Cumberbatch (“Doutor Estranho”), que exibe uma longa barba grisalha.

O início é frenético, a partir dessa ideia de um homem de corpo fechado, ainda sem entendermos o seu real papel. Mas esse divertido estado de estranhamento, ampliado pela relação com a filha noviça que  não via há anos, desanda  quando a dupla viaja para realizar o que pode ser o grande empreendimento de Korda.

Anderson usa  o mesmo mote do road movie familiar de “Viagem a Darjeeling” (2007), quando os personagens aparam suas arestas, misturado à cenografia do início do século ado de “Hotel Budapeste”, do qual também compartilha a  ideia de fazer um certo apanhado histórico de uma região. No caso aqui, a Ásia.

“O Esquema Fenício” observa uma região em constante ebulição, marcada pela violência e pela busca do poder, em que os americanos (personificados por Tom Hanks e Brian Cranston) interferem de maneira a tornar tudo mais desarmônico. Em meio à essa  tensão, Korda ainda precisa descobrir o que é ser pai.

Essa descoberta traz pontos mais sensíveis ao público do que o mundo de acordos e mentiras que o magnata costura como ninguém. Tudo é muito tênue, assim como a verdade estampada em  Korda. O problema é que Anderson nunca sabe o momento de iniciar a aterrissagem de seus voos sempre turbulentos.