Mostra

A bota põe o pé no Brasil com a sua sétima arte

Festa do Cinema Italiano traz até Belo Horizonte a diversidade das produções contemporâneas

Por Raphael Vidigal
Publicado em 31 de agosto de 2017 | 03:00

“Com esta mulher eu vou até pra guerra” ou “se gritar, pega ladrão, não fica um, meu irmão”, conduzem a memória, de imediato, para canções brasileiras. No entanto, com essas mesmas expressões é possível explicar o tema de ao menos duas das sete atrações que chegam ao país por meio da mostra “8 ½ Festa do Cinema Italiano”, com programação desta quinta-feira (31) até o dia 6 de setembro, no Cine Belas Artes.

“Em Guerra por Amor”, filme do humorista Pif que abre o festival, um apaixonado siciliano se alista no Exército norte-americano para ficar mais próximo da amada, enquanto “A Hora Oficial” retrata a disputa pela prefeitura de um vilarejo entre dois “heróis” para lá de suspeitos. “Para nós é importante apresentar uma seleção extremamente atual, alguns destes filmes ainda nem estrearam na Itália”, celebra o curador do festival, Stefano Savio.

Ele aproveita para destacar outro ponto que determinou a escolha dos longas-metragens. “Baseados no princípio da qualidade, a premissa é de alcançar um público que seja amplo e diverso ao mesmo tempo”, aposta. Na esteira dessa diversidade, Savio conceitua o estilo de cada atração.

“O dito ‘cinema de autor’ está representado com ‘O Fantasma da Sicília’, que foi muito aplaudido em Cannes e é soberbo tanto tecnicamente quanto na condução do espetáculo. ‘Em Guerra por Amor’, a máfia é retratada de maneira inédita numa comédia romântica. A auto-ironia e a paródia aparecem para contar duas histórias sob o ponto de vista feminino em ‘Algo de Novo’ e ‘Histórias Que Não Pertencem a Este Mundo’. ‘A Hora Oficial’ é uma comédia popular que, sem sair do entretenimento, deixa mensagens sociais. Já ‘Paro Quando Quero’ tenta ‘italianizar’ o cinema de ação norte-americano”, define.

“São todas tentativas de atualizar a linguagem do cinema italiano contemporâneo, sem grandes rupturas, almejando falar com um público cada vez mais difícil de individualizar”, sustenta o curador.

Humor. Uma rápida bisbilhotada na programação fará saltar aos olhos outra característica recorrente nas produções. “A comédia está no DNA do cinema italiano e nisso ele se identifica muito com o público brasileiro”, ressalta Savio. “Os filmes andam por caminhos diferentes do modelo clássico, sem esquecer da regra base da nossa comédia que é: ao rir, a plateia não perde o sabor amargo em sua boca”, sublinha.

Italiano que há anos reside em Portugal, Savio defende a importância do método não apenas na tela grande. “A ironia torna-se uma chave para enfrentar as dificuldades do mundo sem as esconder”.

Sonhos. A identidade visual do festival ganhou este ano os traços do desenhista Milo Manara, reconhecido, principalmente, por seu trabalho ligado a quadrinhos eróticos. “Sempre homenageamos figuras femininas e sedutoras, que Manara sabe representar muito bem”, afiança Savio.

Como se não bastasse, a ligação cinematográfica contribuiu para o convite. “O desenho é inspirado no filme ‘Cidade das Mulheres’ (1963), de Fellini. Os dois eram muito amigos e Manara colaborou em vários trabalhos dele”, aponta o entrevistado, que não deixa ar a oportunidade de louvar aquele que inspirou o nome do festival.

“Fellini serve de guia para todos que gostam de cinema. ‘8 ½’ é o seu filme mais meta-cinematográfico, uma reflexão sobre o autor e a máquina de criar sonhos que é o cinema. Além disso, é um título que não precisa ser traduzido”, conclui. A mostra ainda a por São Paulo, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife e Rio de Janeiro. 


Programação

31/8. “Algo de Novo”; “Em Guerra por Amor”

1/9. “Paro Quando Quero”; “O Fantasma da Sicília”

2/9. “Histórias de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo”; “A Hora Oficial”

3/9. “Deixa Rolar”; “Algo de Novo”

Primeiro filme às 19h; e o segundo às 21h30.

No Cine Belas Artes (rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes). R$ 20 (inteira)