CUSTO DE VIDA

Governo de Milei segura as rédeas de uma inflação galopante

Embora ainda esteja em 193% ao ano, taxa mensal ou de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,7% em outubro de 2024

Por Luciana Rezende
Atualizado em 10 de dezembro de 2024 | 12:07

Quando o economista Javier Milei assumiu o poder, há um ano, praticamente ninguém apostaria no atual cenário em que se encontra a Argentina no que diz respeito ao controle da inflação, certamente um dos maiores desafios econômicos do país. Embora ainda esteja em 193% ao ano, até outubro de 2024, data da última divulgação do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) da Argentina, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) ou de 25,5% ao mês, em dezembro de 2023, para 2,7%, no décimo mês deste ano. 

O tempo, de acordo com analistas, ainda vai dizer se as medidas adotadas se sustentarão no longo prazo. Mas, por ora, segurar as rédeas de uma inflação galopante há mais de uma década já é um começo surpreendente, que deve se transformar efetivamente em alívio para a população. Para se ter uma ideia, o ano de 2012 marca o início de uma série de taxas anuais de inflação acima dos dois dígitos. Naquele momento, o IPC havia fechado em 10,03%. Em três anos, o índice triplicou e alcançou 30% em 2015. A sequência de elevação do custo de vida prossegue até os assustadores 211,4% ao ano, no final de 2023, a pior hiperinflação da história argentina.

Foi com essa herança que Milei assumiu a Presidência. Em um primeiro momento, as medidas de austeridade adotadas provocaram um repique inflacionário: o índice de preços subiu de 12,8% em novembro para os 25,5% de dezembro do ano ado. No entanto, em seguida, os indicadores mensais desaceleraram até os 2,7% alcançados em outubro. Situação que indica que, enfim, o dragão da inflação está sob controle, ao menos momentaneamente e apesar do elevado custo social. “É realmente um caso de sucesso, e sem um plano econômico, como, inclusive, nós fizemos aqui no Brasil”, destaca o economista Paulo Pacheco, professor de economia do Ibmec Belo Horizonte. 

Estabilidade. Na prática, isso significa que os argentinos não vão mais aos supermercados, por exemplo, com medo de que os preços dos produtos disparem da noite para o dia. Assim, a tendência é que os salários rendam mais. “A inflação é o maior de todos os impostos; é o maior criador de pobreza que pode existir em qualquer país. Então, uma vez domada a inflação, o o dois é que a redução nos preços comece a melhorar o poder aquisitivo da população”, explica Pacheco.

Há ainda uma “melhora psicológica”, como afirma o sociólogo da Universidade Nacional de San Martín Gabriel Vommaro. “Se a gente comparar a situação de 2024 com a de 2023, em algumas variáveis que têm a ver com a estabilização econômica, tanto da inflação com os preços relativos quanto com o dólar, há um êxito fundamental”, completa. “O que mudou é o que faltava: estabilidade e capacidade de planejar o futuro. Estamos otimistas e reativando uma série de investimentos que havíamos freado”, reforça o empresário Alejandro Reca, diretor executivo da empresa de laticínios San Ignacio, principal exportadora de doce de leite do país.

Riscos. Na avaliação do economista Roberto Luis Troster, sócio da Troster & Associados e membro do Conselho Consultivo da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira (Camarbra), o “remédio aplicado está dando certo, por enquanto”. “O risco de hiperinflação desapareceu. Mas há uma série de ‘se’ a superar. Se a recessão não se prolongar demais; se a abertura não quebrar muitas empresas; se o encolhimento do Estado não tiver custos sociais muito elevados; se não houver um repique da inflação; e se o desemprego não disparar. Se conseguir superar os ‘se’, será uma revolução. Há indicações, não a certeza, de que sim”, argumenta.

Pacheco, do Ibmec, tem opinião semelhante. “As medidas de redução de gastos, se mantidas ao longo do tempo, vão levar, sim, a inflação para baixo. A inflação deve permanecer bem comportada. No próximo ano, já deve ficar próxima de 10% a 15%, mas depende, óbvio, de manter os gastos públicos sob controle. Não pode imprimir dinheiro, porque aí gera inflação”, observa. Se depender do presidente Milei, o sucesso das medidas seguirá no próximo ano. “Refleti sobre as medidas do governo para o que será 2025. Diante do cenário, confirmo que seguirei ‘a todo vapor’ com a motosserra”, escreveu há algumas semanas, na sua conta no X. (Com AFP)

Está na capa das revistas

À medida que a inflação cai e a economia argentina dá sinais de recuperação, o presidente Javier Milei ganha notoriedade internacional. O destaque mais recente ocorreu no final de novembro, quando ele estampou a capa da revista inglesa especializada em economia “The Economist”. Na manchete, as aspas do líder argentino: “Meu desprezo pelo Estado é infinito”. A publicação diz que Milei conduz “experimento extraordinário” na Argentina.

Destaque na 'Time'

Javier Milei é o sétimo presidente argentino a aparecer na capa da revista “Time” em 83 anos. Ele estampou a edição de 10 de junho da publicação norte-americana, uma das mais conhecidas do mundo. Com a manchete “O radical – como Javier Milei está chocando o mundo”, a revista relata os os do economista até a Presidência. Em meio a elogios à política monetária, também diz que os eleitores votaram em Milei pela promessa de que o alvo do ajuste seria “a casta” (classe política), mas a ênfase maior acabou sendo no cidadão comum.