A justificativa de Israel para o ataque lançado contra o Irã na manhã desta sexta-feira (13/6) é o suposto desenvolvimento de armas nucleares pelos iranianos. Ao anunciar publicamente o ataque, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a chamada Operação Leão em Ascensão é uma “operação militar direcionada a conter a ameaça iraniana à sobrevivência de Israel” em um momento em que o país teria informação de que o Irã tinha urânio o bastante para produzir nove bombas atômicas.

Os alvos de Israel no país foram instalações militares e nucleares, inclusive o centro de desenvolvimento nuclear do Irã, a usina de Natanz. Os ataques também mataram dois dos principais líderes militares iranianos — o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, e o chefe das Forças Armadas, Mohammad Bagheri —, além de dois cientistas nucleares.

Não há provas conhecidas pela comunidade internacional de que o Irã estava tão próximo de construir uma arma nuclear. Mas alguns sinais já vinham chamando atenção de autoridades globalmente. Na quinta-feira (13/06), a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) condenou o Irã por não cumprir suas restrições nucleares. O órgão destacou que o nível de urânio enriquecido do país estava próximo do necessário para produzir uma arma e que havia partículas da substância em locais não declarados oficialmente pelo pais.

Assista ao vídeo com o jornalista de O TEMPO Frederico Duboc, mestre em Relações Internacionais, que explica se, afinal, o Irã tem capacidade de produzir armas nucleares:

Em meio às tensões no Oriente Médio, com bombardeios Israelenses a instalações nucleares no Irã, muito se pergunta sobre a capacidade do país de maioria muçulmana em produzir estas armas. O jornalista de O TEMPO Frederico Duboc, mestre em Relações Internacionais com foco em… pic.twitter.com/zGFCZXY66t

— O Tempo (@otempo) June 13, 2025

Para o consultor e professor de Relações Internacionais do Ibmec Mario Schettino Valente, o Irã teria motivação para construir uma arma nuclear. “Seria um fator de proteção para seu Estado, mas também de seus aliados. E diminuiria a margem de ação que Israel tem agora e usa para expandir seu território sobre a Palestina, o Líbano e a Síria”, avalia.

O avanço do Irã na tecnologia nuclear tomou impulso após os EUA se retirarem de um acordo internacional em 2018, no primeiro mandato de Donald Trump. Ele previa o alívio de sanções econômicas contra o Irã caso o país se comprometesse com uma série de regras. Agora, Trump declarou que o Irã precisa fechar um acordo “antes que seja tarde demais”.

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Na perspectiva do professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) Kai Lehmann, o ataque de Israel não é motivado somente pelo risco de o Irã desenvolver uma arma nuclear — o que ele considera pouco provável neste momento. “Parte [do que motivou o ataque] é simplesmente oportunidade. O Irã está em uma situação econômica e política muito fragilizada, e é um objetivo de longa data de Netanyahu acabar com o programa nuclear do Irã e, se for possível, com o regime iraniano”, diz ele. O professor também pontua que o ataque pode ser um trunfo para estabilizar o governo de Netanyahu, que sofreu uma crise parlamentar na última semana.

O mundo aguarda, agora, os desdobramentos do conflito. O Irã revidou o ataque israelense logo em seguida, ao mesmo tempo em que Israel sinalizou que continuará a investir contra o oponente. “Sem dúvida, o conflito de Irã e Israel é explosivo. A situação é muito grave. Estamos por um fio e vamos ver como ela se desenvolve”, conclui o professor de Teoria do Estado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da PUC Minas José Luiz Quadros de Magalhães.