O Dia de Aleijadinho, celebrado neste 18 de novembro, data de seu falecimento, em 1814, homenageia Antônio Francisco Lisboa, patrono das artes no Brasil. Artista negro nascido em 1738, em Vila Rica (atual Ouro Preto), filho de um português e de uma mulher negra escravizada, Aleijadinho personifica a miscigenação que moldou a identidade brasileira.
Sua genialidade transcende o Ciclo do Ouro e o período barroco, deixando um legado que influenciou profundamente a arquitetura e a organização urbana em Minas Gerais e além.
Em Minas Gerais, as cidades foram fundadas com base nos adros das igrejas e na fé que unia as comunidades. Aleijadinho revolucionou a arquitetura religiosa ao integrar harmoniosamente os templos à paisagem, valorizando tanto o sagrado quanto o social.
Além das grandes obras conhecidas, sua influência se estendeu ao chamado “barroco estradeiro”, caracterizado pelas capelas simples espalhadas ao longo dos caminhos e estradas, servindo de apoio espiritual aos viajantes e às pequenas comunidades rurais.
Essas capelas, muitas vezes construídas com recursos limitados, apresentam um programa arquitetônico aos elementos essenciais, mas carregam a marca da criatividade e da identidade local. O barroco estradeiro reflete a expansão da fé e da arte para regiões além do Ciclo do Ouro, demonstrando como a religiosidade e a cultura se difundiram por todo o Estado de Minas Gerais.
Os adros dessas capelas transformaram-se em praças nas regiões além do Ciclo do Ouro, tornando-se pontos de encontro e convivência. Essa evolução reflete a profunda religiosidade do Estado e como a fé influenciou a formação dos centros urbanos mineiros. Aleijadinho, mesmo quando não atuava diretamente nessas construções, inspirou inúmeros artistas e artesãos, que propagaram seu estilo e técnicas pelo interior de Minas Gerais.
Celebrar o Dia de Aleijadinho é reconhecer a contribuição inestimável de um artista negro que, superando as adversidades de sua época, deixou uma marca indelével na história de Minas Gerais e do Brasil. Sua obra reflete a riqueza da miscigenação e a profunda religiosidade do Estado. Ao observarmos as capelas do barroco estradeiro e as praças que hoje ocupam os antigos adros das igrejas, percebemos a continuidade de sua visão: espaços que promovem a união, a cultura e a expressão da fé em harmonia com a comunidade.
Aleijadinho não apenas enriqueceu o patrimônio artístico nacional, mas também influenciou a forma como concebemos e vivenciamos os espaços urbanos em Minas Gerais. Seu legado inspira gerações a valorizar a diversidade e a reconhecer a arte e a fé como elementos fundamentais na construção da sociedade.
No dia 18 de novembro, homenageamos não apenas o mestre do barroco mineiro, mas também o símbolo da resistência, da religiosidade e da identidade brasileira que ele representa.
(*) Leônidas de Oliveira é secretário de Estado de Cultura
e Turismo de Minas Gerais