O genial ministro de Belíndia
Méritos e as falhas do crescimento sem sustentabilidade
A contribuição como analista de problemas herdados e formulador de estratégias coloca Delfim Netto entre os mais importantes economistas e influentes políticos da história. Nos dias seguintes à sua morte, foi louvado pela inteligência e pelo papel no salto do PIB brasileiro, na década de 1970; também pela versatilidade em apoiar os militares em um momento e, em outro, ser o guru do PT.
Apesar de sua competência, Delfim trabalhou com a mesma miopia dos economistas que buscam crescimento sem sustentabilidade nem justiça. Adotam medidas para reduzir a penúria, mas sem estratégias para superar a tragédia da pobreza e a vergonha da desigualdade. Ignoram que a educação de base com qualidade e equidade é o vetor fundamental para o aumento da renda social e para sua distribuição.
Ao dizer a famosa frase “é preciso fazer o bolo do PIB crescer, para depois dividi-lo”, escondeu que a pobreza é hoje, como a escravidão foi no ado, um instrumento para promover o aumento do PIB, ao concentrar a renda e baixar salários.
Ele e muitos economistas não perceberam que a superação da pobreza só se consegue pela ibilidade de todos aos serviços sociais básicos. O ex-ministro não viu que a permanência da pobreza leva ao apodrecimento moral do bolo do PIB, à instabilidade da democracia, além de limitar o crescimento no médio prazo devido à baixa produtividade da mão de obra; não percebeu que crescer sem distribuir não é apenas imoral, é também ineficiente e insustentável.
Apesar de sua genialidade, Delfim e demais economistas “de direita” consideram que a baixa qualidade de nossa educação é consequência do subdesenvolvimento. Por sua vez, os economistas “de esquerda” consideram que a educação de base só será bem distribuída quando a renda for bem distribuída, não que a boa distribuição de renda depende do o isonômico de toda população à educação de qualidade, independentemente da classe social da criança.
Foi a influência política de Delfim sobre os ditadores que levaram o país ao milagre econômico com taxas de crescimento que nunca mais voltamos a ter, sem pagar e até agravando as dívidas social, fiscal e ecológica. Sua influência acadêmica formou uma geração de procrastinadores de dívidas especialmente com a educação.
Por isso, nossos milagres se esgotaram rapidamente. Delfim foi o símbolo da genialidade de nossos economistas com táticas para istrar dívidas sem enfrentá-las; adiando os problemas sem construir um país eficiente, justo, rico, sustentável e democrático.
Sob essa cegueira, ele foi um dos melhores: colocou nossa economia entre as maiores do mundo, mas fez do Brasil o que, já no início dos anos 70, Edmar Bacha chamava de “Belíndia”, injusta e insustentável.