Um pedaço do mundo
COP 30 e a visão dos países para a questão ambiental
Até recentemente, o mundo era a soma dos países, agora, cada país é um pedaço do mundo. Os problemas aram a ser planetários. Depois da radicalidade da globalização econômica e cultural, já não faz sentido dizer “o que importa é meu país”. Não se justifica mais dizer “Amazônia é nossa, e podemos queimá-la, pavimentá-la, explorar seu petróleo”.
O mundo é um sistema de países, mas a política continua a decidir por país soberano, com a visão de “o que importa é meu país”. A geografia tradicional deixou de representar a realidade social, econômica e cultural, mas continua representando a realidade política.
Eleitores e eleitos não votam para resolver problemas do mundo nem para fazer um mundo melhor no longo prazo; votam para seu país ser mais rico nos próximos anos, barrando imigrantes para proteger privilégios e para aumentar a produção industrial, mesmo contra as gerações futuras.
No livro “Minhas Frases dos Outros”, Thélio Queiroz Farias cita frase de Joaquim Nabuco: “o verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade”. Com mais de cem anos, a frase ainda é um conceito de filosofia moral, não de prática política. A maneira de combinar humanismo e democracia é definir valores morais de interesse da humanidade que imponham limites ao poder dos eleitores de cada país: a moral fica humanista, a política continua nacional.
Essa é a importância das COPs, onde, apesar do nome ser Conferência das Partes, não do todo, diplomatas e militantes se reúnem para discutir o futuro do mundo, não de cada país isoladamente.
Embora o acordo final deva ser aprovado e assinado conforme os interesses de cada país por seu respectivo governo, é possível ter otimismo com a COP 30, em Belém, no próximo novembro. Porque o Brasil é o país que melhor representa o conjunto da humanidade. Porque temos um presidente que depende dos votos nacionais, mas tem sensibilidade para os problemas mundiais, e porque o presidente da COP 30, embaixador André Aranha Corrêa do Lago, é um competente e respeitado diplomata com consciência dos problemas do mundo.
Na COP 30, o Brasil tem a grande chance de ser o país de onde possa sair uma alternativa para o futuro da humanidade. Para tanto, não devemos enfrentar os problemas do mundo sob a ótica do “o que importa é meu país, depois o resto”. Os países desenvolvidos devem entender que o padrão de consumo de suas populações é insustentável, ainda que construam muros e deixem os imigrantes morrendo do outro lado, e os países em desenvolvimento precisam perceber que cada um de seus ricos consome mais do que o consumo médio de cada habitante dos países ricos.
Até novembro, o Brasil precisa pensar como Nabuco e saber o quanto estamos dispostos a abrir mão com a consciência de que somos um pedaço do mundo.