Podemos evitar toda dor e todo sofrimento?
Cada vez mais conseguimos elucidar os motivos para os adoecimentos, mas sobre muitas coisas ainda não temos controle. Quando pensamos, em sofrimentos que causam dor, precisamos entender que toda condição de desconforto, de perturbação da tranquilidade, pode gerar sofrimento.
Algumas pessoas não conseguem compreender sua unicidade e vivem a vida olhando o tempo todo para a vida de outras pessoas.
O mundo sempre foi assim: a grama do vizinho sempre parece mais verde. Mas, em tempos de extrema exposição virtual, em que tantas pessoas consideram influenciadores como modelos, o mundo intenta criar muitos desejos, torna-se muito fácil olhar no espelho e não ser nada do que se acredita que o mundo gostaria que fosse, gerando a loucura de não ser o que se pensa que gostaria de ser. Digo “pensa que gostaria de ser” porque o que se deseja ser é tão volúvel quanto as mudanças de tendência: peitos grandes, pequenos, lábios grossos, finos…
Este modelo de existência deixa uma marca de insatisfação permanente, gera comportamentos compulsivos e uma falta de critério sobre o que é permitido em nome de uma imagem que se espera ter para satisfazer um modelo que te deixe mais semelhante à tendência. Independentemente do que se faça para atingir um modelo de aparência padronizado, a própria percepção de inadequação já é, em si, uma dor.
Não se olhar no espelho e se apreciar, independentemente de tantos outros modelos comparativos, já traduz uma angústia. Somos seres únicos, feitos para termos essa exclusividade; qualquer tendência diferente de respeitar essa individualidade não promove saúde.
Olhar-se e não se sentir adequado e, por consequência, não ter uma relação amorosa com o próprio corpo, cria muitos problemas emocionais. Facilmente se desenvolve uma sensação de menos-valia, que muitas vezes se desdobra em relacionamentos abusivos, que geram outros problemas, emocionais e/ou físicos.
Buscamos resolver muitos problemas que podem trazer danos à saúde das pessoas. Vamos desde o saneamento básico até a busca por vacinas e medicamentos que tratem doenças graves e sérias, ando pela regulamentação de alimentos ultraprocessados e conscientização sobre o uso de álcool e cigarro.
Tudo isso é muito adequado, mas não podemos parar por aí. Ainda não percebo regulamentações adequadas para proteger as pessoas de influências nocivas e muitas vezes falsas.
Para além de criar a necessidade de um consumo excessivo, esse é um problema que vem se tornando cada vez mais uma grande questão na geração de adoecimentos que vão muito além das doenças emocionais.
Considerando que essas já seriam suficientes para que tivéssemos mais empenho em desenvolver ações para proteger as pessoas, precisamos lembrar que não é só o que comemos, mas também o que pensamos, que tem um forte potencial de adoecimento.(Instagram dra Meira Souza)