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Juhlia Santos

Fruto da coletividade, Juhlia Santos é quilombola do Kilombo Manzo e militante LGBTQIAPN+, com atuação nas causas trans. Vereadora eleita por Belo Horizonte, é uma artivista que se vale da arte como forma de discussão sobre as dissidências de raça, classe, gênero e, sobretudo, sobre a condição de humanidade. É também agitadora cultural em diversos cenários de Belo Horizonte e atua no Carnaval de rua da cidade, fazendo parte de vários blocos. É graduada em Comunicação Social e pesquisadora de gênero há 15 anos.

JUHLIA SANTOS

Enquanto BH sofre, Câmara prioriza pautas ideológicas

Tática desvia a atenção da agenda real da cidade

Por Juhlia Santos
Publicado em 15 de maio de 2025 | 07:00

Apesar de 2025 já ter derrubado 135 “folhinhas” da parede, as pessoas de Belo Horizonte ainda estão tentando entender qual é a agenda dos novos representantes da cidade. 

O ano de 2024 deixou vários desafios em aberto para nossa cidade enfrentar: tivemos mais que o dobro de ondas de calor em relação a 2023; eventos climáticos extremos bateram à nossa porta, como demonstraram o rompimento da barragem do Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado e os 155 dias sem chuva que enfrentamos. 

Além disso, problemas históricos se agravaram, como o aumento do número de pessoas em situação de rua, o crescimento da população vivendo em áreas suscetíveis a deslizamentos e enchentes e o aumento do tempo médio de viagem no transporte público – chegando a níveis equivalentes aos de São Paulo, conforme demonstrado pela pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Pauta da direita

Diante desse cenário espinhoso, quais têm sido as prioridades dos novos representantes da nossa cidade? Os vereadores da extrema-direita, que compõem o campo majoritário na Câmara, levaram os seguintes projetos para serem pautados: 

  1. i) proibição da participação de pessoas trans nos esportes;
  2. ii) leitura bíblica como recurso paradidático nas escolas;
  3. iii) instituição de um dia municipal para celebrar os métodos contraceptivos naturais;
  4. iv) reconhecimento de Belo Horizonte como a “Capital do Bitcoin”.

Será que vivemos na mesma cidade? Qual é a preocupação desse grupo com a vida das pessoas de Belo Horizonte?

Esse grupo apresenta seus “espantalhos” com uma agenda recheada de projetos inconstitucionais, que violam os direitos das mulheres e da população LGBTQIAPN+, afrontam a laicidade do Estado e revelam uma busca obsessiva por likes e engajamento nas redes sociais. 

Essas ações fazem parte de uma estratégia para desviar a atenção da agenda real da cidade, que convive com o aumento da agem de ônibus de R$ 5,00 para R$ 5,50, com as enchentes – que vitimaram uma adolescente no Barreiro – e com a superlotação dos leitos hospitalares, sobretudo os pediátricos. 

Pepe Mujica, que acabou de nos deixar, resume bem essa tática da extrema-direita ao dizer que perdemos a capacidade de refletir e estamos anestesiados pelo entretenimento.

Uma outra agenda

Uma outra parcela, minoritária, da Câmara de Vereadores – da qual faço parte – composta por vereadoras e vereadores progressistas, está atenta e conectada com essa agenda real da nossa cidade. 

  • Propusemos um projeto de lei para garantir ônibus gratuito em Belo Horizonte;
  • outro projeto, chamado de “Cidade Esponja”, para o enfrentamento das enchentes;
  • além de proposições voltadas à valorização das carreiras dos profissionais de saúde e à fiscalização e proteção das áreas verdes que ainda possuímos, como a Serra do Curral e a Mata da Baleia.

Resta saber se a maioria da Casa Legislativa abrirá os olhos para a agenda que emerge das ruas belo-horizontinas ou se continuará presa às pautas do Apocalipse.