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Paulo Diniz

Paulo Ricardo Diniz Filho é doutor em Ciências Sociais e bacharel em relações internacionais e istração pública

SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Sem plano B

Em entrevista recente, o presidente Lula falou explicitamente sobre a possibilidade de buscar se reeleger no pleito de 2026

Por Paulo Diniz
Publicado em 25 de junho de 2024 | 07:00

Em entrevista recente, o presidente Lula falou explicitamente sobre a possibilidade de buscar se reeleger no pleito de 2026. Há quem diga que, como sequer chegamos ao meio do mandato presidencial, estaríamos ainda muito distantes do momento certo para esse tipo de discussão.

Por outro lado, faz sentido pensar que o poder que Lula exerce hoje é muito afetado pela hipótese de que seu tempo de governo remanescente seja contado em meses, e não em anos. Afinal, o mundo político vive o futuro agora, em constantes planejamentos dos próximos os. Sem a possibilidade de reeleição, Lula deixa de ser visto como o homem forte em relação a todos os assuntos de médio e longo prazo.

Mas essa relação entre presente e futuro no mundo da política já foi discutida nesta coluna, no ano de 2023. O que interessa pensar agora é a importância que a reeleição de Lula tem para a esquerda brasileira. Trata-se, basicamente, da única liderança política com força eleitoral e projeção nacional nesse vasto campo político.

A possibilidade de que Lula dispute – e eventualmente vença – a reeleição não faz com que o cenário futuro da esquerda nacional se torne menos preocupante. Na verdade, é possível avaliar o futuro da esquerda brasileira a partir da importância que desempenham nessa equação fatores puramente individuais de Lula: desde a saúde até a disposição pessoal para continuar exercendo o cargo mais desgastante do Brasil até os 85 anos. São muitas as variáveis – e cada vez mais prováveis – que podem fazer com que a esquerda retroceda, em uma questão de minutos, mais de 40 anos em termos de poderio eleitoral.

Contrariando toda a razoabilidade, nenhuma liderança política de esquerda vem sendo preparada para assumir o protagonismo eleitoral em escala nacional. Fernando Haddad, derrotado na disputa presidencial de 2018, hoje ocupa um ministério pouco popular, cujo exercício gera constantes atritos com as classes política e empresarial e mesmo com a população em geral. Um exemplo foi a defesa que Haddad fez da taxação de importações de baixo valor, praticadas diariamente por milhões de brasileiros por meio de aplicativos chineses – a infame “taxa das blusinhas”. Recentemente, até o próprio Lula criticou publicamente Haddad, em termos pouco delicados e politicamente cruéis.

Flávio Dino, que reúne capacidade política, experiência istrativa, potencial eleitoral e carisma pessoal, foi fossilizado em vida e enviado para exposição no Supremo Tribunal Federal. Jacques Wagner, ex-governador da Bahia, é outro nome à esquerda com potencial para assumir a liderança que hoje é de Lula. Entretanto, hoje exerce discretamente um mandato de senador, sem receber sinal de prestígio político por parte do governo.

A prudência recomenda que uma transição de poder tão delicada como a de Lula seja conduzida por esse próprio, de forma gradual e consistente. Porém, o tempo vem ando, e a esquerda brasileira segue fiel ao único plano de ação que teve desde a redemocratização: Lula.