A municipalização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte – formalizada nesta terça-feira (3 de junho) em cerimônia que contou com a participação de autoridades da capital mineira e do governo federal – dá início também a uma série de desafios que devem ser enfrentados pela prefeitura como nova gestora do trecho. O consultor em transporte e trânsito Silvestre Andrade pontua que, entre as questões complexas a serem enfrentadas pelo município, está a necessidade de gerenciar o alto fluxo de tráfego rodoviário.
Reportagem publicada por O TEMPO nesta terça-feira mostrou que o Anel Rodoviário é o mais perigoso da capital, liderando as vias com maior número de mortes desde 2014. Entre janeiro e abril deste ano, foram registrados uma média de 12 acidentes por dia, em um trecho que recebe 154 mil veículos diariamente.
Confira, abaixo, a entrevista com o consultor em transporte e trânsito Silvestre Andrade.
O que muda, na prática, com a transferência do Anel Rodoviário para a Prefeitura de Belo Horizonte?
O que muda na prática é que a responsabilidade por toda a operação, a manutenção, os investimentos, a a ser tudo da Prefeitura de Belo Horizonte. Então, sai de ser no governo federal e entra no governo municipal, com todas as responsabilidades pelo dia a dia da rodovia.
Quais serão os principais desafios da via que a PBH precisará lidar agora com a municipalização? Com o que o Executivo deverá se atentar?
Os principais desafios estão ligados a toda a falta de investimento que, historicamente, tem o Anel Rodoviário. Ele está há muitos anos sem investimentos importantes e necessários, e você agora tem que, de certa forma, ao assumir a responsabilidade sobre ele, responder a esse desafio, que é fazer esses investimentos todos, além de fazer uma operação mais adequada às condições da via. Ao se transformar em via municipal, ela exige, de certa forma, que traga características de via urbana para a rodovia. Ela já tem esse uso misturado de rodovia com via urbana, mas ela tem poucas características de via urbana no seu desenvolvimento, no seu traçado: ela não tem eios, por exemplo, os pontos de ônibus são muito maltratados, faltam arelas em alguns lugares. Então, essas características típicas de via urbana precisam ser contempladas agora, já que a prefeitura assumiu a sua responsabilidade.
A PBH tem expertise para lidar como uma via do porte do Anel Rodoviário?
A prefeitura não tem rodovias, a prefeitura tem vias urbanas e o anel é ainda uma rodovia. Enquanto não se constrói um rodoanel novo, ela vai continuar tendo um tráfego de veículos muito intenso, por ser próxima aos trechos da Cristiano Machado, da Antônio Carlos, fora do Anel, onde tem um tráfego de caminhões para chegar ao Anel. Só que essas são vias com semáforo, são vias de tráfego intenso, de cruzamentos, etc., onde os caminhões se desenvolvem em velocidades menores. No Anel, ela é como uma via expressa, e aí os volumes são maiores, tanto de automóveis quanto de caminhões e isso, de certa forma, é um problema de segurança que a gente vê refletido, às vezes, nesses acidentes que acontecem. Então, isso vai precisar ser tratado e a Prefeitura precisa enfrentar esse problema porque ela não cuida de rodovias, ela não tem rodovias próprias. Existem rodovias no espaço de Belo Horizonte, mas cuidadas pelo Estado ou pelo governo federal através do Dnit ou de concessionárias de rodovias.
Com o crescimento das cidades, a municipalização de vias como o Anel Rodoviário tem acontecido em outros lugares? Isso é benéfico para os municípios?
Pode-se dizer que essa questão de municipalização de antigas rodovias que vão se transformando em vias urbanas é comum. Há alguns anos atrás, quando se concedeu, por exemplo, a própria BR-381, se fez o Anel de Betim, e o trecho antigo que existia em Betim foi municipalizado, mas você tinha um Anel em volta. Então, o que acontece, normalmente, é que primeiro se constrói o contorno da cidade, para depois municipalizar a via que sobrou ali. Você desvia o tráfego rodoviário para essa nova via e aquele que ficou ocioso, em termos rodoviários, se transforma numa via urbana. Aqui, nós estamos, de certa forma, invertendo o processo, quer dizer, antes de se construir o contorno, a rodovia já está sendo municipalizada, e esse vai ser um problema a ser enfrentado pela Prefeitura, porque ela vai ainda lidar com o tráfego rodoviário pesado em uma via que tem características urbanas, e ao ser municipalizada, ela precisa assumir ainda mais essas características urbanas.