O deputado federal José Guimarães (PT-CE) negou que sairá da liderança do governo na Câmara dos Deputados. Em entrevista a O TEMPO, em Belo Horizonte, ele garantiu que a permanência no cargo é apoiada pelos partidos do Centrão e afirmou, ainda, que não guarda qualquer frustração pela escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em nomear Gleisi Hoffmann (PT-PR) para assumir a Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Nos bastidores, Guimarães foi um dos nomes cotados para assumir a articulação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional. 

"Eu não fiquei frustrado. Sou um dirigente do PT de projeto e o fato do meu nome ser lembrado é bom. Não tem problema (não ter sido escolhido), quem escolhe o ministro é o presidente. Eu fiquei satisfeito com a Gleisi e penso que o meu papel no Congresso é ajudar o Lula a construir a governabilidade para aprovar as matérias que são de interesse do Brasil", afirmou o deputado que diz ter "sintonia fina" com a ministra.

Para o parlamentar, a ex-presidente do PT "tem sangue no olho para fazer a articulação". "Foi a melhor escolha que o presidente poderia fazer. Eu, como líder do governo na Câmara, tenho uma sintonia de lealdade, de parceria e de trabalho conjunto com a Gleisi. Ela dará conta do trabalho porque quem articulou e dirigiu uma campanha como a de Lula em 2022, reúne todas as condições para, na articulação política, pacificar a relação do governo com o Congresso", avaliou Guimarães. 

'Sempre dei conta do recado' 3k276p

O deputado refutou ainda os rumores de que poderia deixar a liderança do governo. Segundo interlocutores, Lula poderia tirar José Guimarães do cargo como um gesto de aproximação ao Centrão, que também queria a vaga de Gleisi na SRI. O líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), era o principal cotado para a articulação política; mas, Lula optou por Gleisi e frustrou aliados de centro no Congresso. 

A movimentação ajudou a rifar a cadeira de Guimarães. Na última semana, lideranças partidárias procuraram o Palácio do Planalto para colocar as legendas à disposição para o cargo - um dos interessados, inclusive, seria o emedebista. O petista, no entanto, conta que sempre recebeu apoio das legendas de diferentes espectros políticos para continuar no cargo. Ele ainda afirmou que “sempre deu conta do recado”. 

"Depois que o presidente Lula indicou a Gleisi, eu recebi apoio de todos os partidos mais ao centro, do PT e da própria ministra (Gleisi) para continuar no governo. O presidente da Câmara (Hugo Motta) e os líderes desses partidos mais ao centro sempre reconheceram o meu trabalho. Se tem um líder que deu conta do recado fui eu. Mas não foi fácil, porque (o governo) não tem maioria na Câmara, sempre tem uma intensa negociação em discutir com partidos que sequer apoiavam o Lula e deu certo. O meu sentimento é de dever cumprido", rebateu o deputado quando questionado sobre as críticas do Centrão a ele.

Para Guimarães, é preciso "repactuar a relação" dos partidos aliados com o Palácio do Planalto. "Nós temos que fazer uma recomposição, é o que está precisando dessa nova fase do governo para pacificar e eles (partidos de Centro) são fundamentais, até porque tudo que nós aprovamos no Congresso, nós devemos também muito a eles. Eles ajudaram muito e eu quero continuar essa mesma relação", completou o parlamentar, que afirmou que apesar da colaboração, o "PT é o principal partido de sustentação política do governo". "Nós temos duas pernas: os aliados e o PT", completou. 

Prioridades no Congresso 73n6

Segundo o líder de Lula, a prioridade do governo no Congresso nos próximos dias será isentar o Imposto de Renda (IR) para os brasileiros com salários de até R$ 5 mil e a votação do Orçamento de 2025. Questionado sobre como irá lidar com eventuais divergências entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Gleisi Hoffmann, Guimarães foi enfático ao dizer que seu papel será "unificar as matérias fundamentais para o governo". 

"As pautas do Haddad são as pautas do governo e as pautas da Gleisi são as pautas do governo. Lula vai enviar na terça-feira (18) a isenção do imposto de renda, que é uma pauta prioritária para o governo, e nós estamos sintonizados com o Haddad e com a Gleisi. Não tem, não tem areia nessa relação", garantiu.

Ele também amenizou as críticas da oposição sobre a fala do presidente Lula da última semana, que se referiu a ele como "cabeçudão do Ceará" ao elogiar seu trabalho na liderança do governo. Na ocasião, Lula ainda disse que escolheu uma “mulher bonita”, referindo-se a ministra Gleisi Hoffmann, de Relações Institucionais, para diminuir a distância com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).

"Eu recebo isso (Cabeçudão do Ceará) com alegria. É um gesto carinhoso (do Lula). Não tem problema. Eu vejo isso muito mais com com um gesto de carinho do que qualquer preconceito, de qualquer atitude que desvirtue daquilo que ele tem que é o compromisso com o país e com o Nordeste. Eu fiquei, aliás, satisfeito, porque a recepção no meu Estado foi absolutamente positiva. O pessoal fala: 'oh, o cabeçudão vai ser o senador do Ceará'. Portanto, eu estou insatisfeito", disse. 

Eleições internas do PT 5t2zl

Questionado sobre a escolha do senador Humberto Costa (PT-PE) para o “mandato-tampão” na presidência do PT, José Guimarães, cotado para assumir o posto, garantiu que ele próprio defendeu o nome do correligionário ao invés do seu. Na última semana, o partido definiu o senador como o responsável por comandar a legenda no lugar de Gleisi até julho deste ano, quando ocorrerão novas eleições internas na sigla.

"Havia uma disposição de alguns dirigentes que eu assumisse interinamente, mas avaliamos que nesse momento de interinidade, era melhor que eu permanecesse com o Congresso para ajudar o Lula e escolhemos um outro companheiro. Era o meu nome e o nome de Humberto. Eu mesmo defendi o nome de Humberto. O meu papel agora é liderar o governo do presidente Lula", afirmou o deputado.

Guimarães ainda se esquivou de responder se irá concorrer com o ex-prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, a liderança do partido em julho. "A Corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) vai discutir com o presidente Lula. Eu defendo a tese de uma recomposição e, sobretudo, um realinhamento que seja sintonizada no cuidado do PT e em ajudar o Lula governar e se reeleger em 2026", afirmou.