BRASÍLIA – O pastor evangélico Silas Malafaia chamou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “ditador” e “criminoso”, em discurso ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (16).

“O ministro Alexandre de Moraes é um criminoso”, disse o líder religioso, ao discursar no evento. “Ele é um ditador, que está extrapolando todas as leis do nosso país. É uma verdadeira perseguição política como a gente nunca viu na história do nosso país”, completou o pastor evangélico.

Malafaia é um dos organizadores do evento capitaneado por  Bolsonaro, em uma tentativa de pressionar o Congresso Nacional para aprovação do chamado PL da Anistia, para anular a pena dos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. O projeto de lei beneficiaria o próprio Bolsonaro.

Malafaia, que também organizou os atos feitos por Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo, e em Copacabana no ano ado, evitou falar sobre a quantidade de manifestantes na orla carioca neste domingo. O pastor evangélico disse, porém, que a esquerda não consegue “colocar nem a metade”. Ele já havia atacado Moraes na última quarta-feira (12 de março), quando disse que ao orar, não pede “para matar” o ministro, mas entrega o magistrado “nas mãos de Deus”.

“Não peço para matar, não peço para nada disso não, só coloco na mão de Deus, que Deus sabe quem é que Deus quer salvar. Como é que você vai fazer uma oração ao Senhor, ao teu filho? Eu não faço, eu não faço essa oração. Deus sabe o que Deus quer. Muitas vezes Deus quer salvar um cara desse. E eu, eu vou estar combatendo contra Deus, então é melhor eu entregar na mão de Deus e fazer a minha parte de cidadão”, disse Malafaia em uma pregação no Conselho de Ministros Evangélicos do Estado do Rio de Janeiro (Comerj).

Bolsonaro defende anistia, acusa perseguição e garante que não vai fugir 4h1rh

Diante de um possível julgamento por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro pediu, também na orla de Copacabana, anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.

O ex-presidente também disse, durante a manifestação deste domingo, que “jamais poderia imaginar um dia na minha vida que teríamos refugiados brasileiros mundo afora”, referindo-se a apoiadores que pediram refúgio em outros países.

De cima de um trio elétrico, ele afirmou ainda que os condenados pelos atos de 8 de janeiro “são inocentes e não cometeram nenhum ato de maldade”.

Essas pessoas são investigadas no Brasil – algumas têm mandado de prisão expedidos e outras já foram até condenadas – por uma série de circunstâncias, algumas por invadir e depredar as sedes dos Três Poderes, dois anos atrás.

Apesar de ainda se colocar como candidato a presidente em 2026, mesmo inelegível até 2030 por duas condenações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro ressaltou não ter “obsessão pelo poder, mas, sim, amor pelo Brasil”. 

Bolsonaro sugeriu que sua inelegibilidade pode ser revertida. “Afinal de contas, me tornaram inelegível por quê? Pegaram dinheiro na minha cueca? Alguma caixa de dinheiro no meu apartamento? Algum desfalque em estatal? Porque me reuni com embaixadores. A outra porque subi no carro de som do Silas Malafaia.”

Em julgamento realizado em junho de 2023, o TSE tornou Bolsonaro inelegível por 8 anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em reunião com embaixadores estrangeiros, em 2022. Na ocasião, ele fez afirmações falsas sobre o processo eleitoral. Em outubro de 2023, foi condenado novamente pelo TSE, pelo uso eleitoral do 7 de setembro.

Também no discurso em Copacabana, Bolsonaro garantiu que não vai fugir do Brasil. “Não vou sair do Brasil. A minha vida estaria muito mais tranquila se eu tivesse do lado deles. Mas escolhi o lado do meu povo brasileiro”, disse o ex-presidente.

DECLARAÇÃO - Em discurso em Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (16), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar decisões da Justiça que o tornaram inelegível. Ele disse que não vai sair do Brasil e que será “um problema, preso ou morto”

“Não vou sair do… pic.twitter.com/0C5fipqdTx

— O Tempo (@otempo) March 16, 2025

Bolsonaro ainda criticou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Alexandre de Moraes e contestou a denúncia feita pela PGR.

Tarcísio defende Bolsonaro como candidato a presidente e ataca governo Lula 1471e

Também discursaram os governadores Cláudio Castro (PL-RJ) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), o senador Magno Malta (PL-ES) e os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Rodrigo Valadares (União-SE).

Todos falaram rapidamente ao microfone de um dos trios elétricos. Elogiaram Jair Bolsonaro, o colocando concorrente à Presidência em 2026, criticaram Alexandre de Moraes e defenderam a anistia.

Tarcísio aproveitou para atacar o governo Lula. “Ninguém aguenta mais arroz caro, gasolina cara, o ovo caro. Prometeram picanha e não tem nem ovo. E, se está tudo caro, volta Bolsonaro”, afirmou o governador.

“Qual a razão de afastar Jair Bolsonaro das urnas? É medo de perder a eleição, e eles sabem que vão perder?”, prosseguiu o governador. “Estamos aqui para lutar e exigir anistia de inocentes que receberam penas.”

Já Cláudio Castro, também ao microfone de um dos trios elétricos, puxou um coro pela anistia. “Esse povo veio de graça [para o ato] para pedir anistia já. O Rio de Janeiro clama ao Brasil: anistia já”, afirmou.

Pouco antes do ato, em entrevista à imprensa, Flávio Bolsonaro subiu o tom contra Alexandre de Moraes. “Não tenho dúvida que esse é um o importante (a manifestação) para nós começarmos a derrotar o alexandrismo, que é o que ele está fazendo. Algo inimaginável há poucos anos no Brasil, que um ministro da Suprema Corte fosse rasgar a Constituição desse jeito, fosse inventar o seu próprio o seu próprio Código Penal e condenar as pessoas injustamente por vinganças.”

Sóstenes disse que entrará com pedido pela urgência do PL da Anistia 5f393g

Líder do PL na Câmara, Sóstenes afirmou que entrará com pedido pela urgência do projeto de lei a favor dos condenados pelos atos de 8 de janeiro. Até o momento, 480 pessoas receberam penas que variam de 3 anos a 17 anos de prisão. O PL da Anistia é debatido desde o ano ado e ganhou força após pressão do partido de Bolsonaro.

“Estou assumindo aqui o compromisso com todos vocês de que nesta semana, quinta-feira [20], na reunião do colégio de líderes, nós vamos dar entrada com a minha e dos 92 deputados do PL e de vários outros partidos que eles vão ficar surpresos, para que nós possamos pedir a urgência do PL da Anistia para entrar na pauta na semana que vem”, afirmou Sóstenes.

Jair Bolsonaro tem buscado presidentes de partidos e lideranças de Centro em busca do apoio para o PL da Anistia. “Há poucos dias, tinha um velho problema e resolvi, com o (Gilberto) Kassab em São Paulo. Ele está ao nosso lado com a sua bancada para aprovar a anistia em Brasília , afirmou Bolsonaro em seu discurso deste domingo.

No entanto, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já disse não ter interesse em andar com propostas polêmicas. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), afirmou que a proposta “não é assunto dos brasileiros”.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro decidiu não ir à Copacabana para ar por um procedimento estético. Presidente do PL Mulher, ela foi uma das figuras políticas que convocaram a população a participar da manifestação, por meio de um vídeo publicado nas redes sociais. Também estava entre os nomes previstos para discursar.

Atos de 8 de janeiro são citados em denúncia da PGR contra Bolsonaro e aliados 2r5c6b

Os atos de 8 de janeiro ocorreram uma semana após a posse de Lula. Enquanto Bolsonaro estava nos Estados Unidos, seus simpatizantes exigiam uma intervenção militar para derrubar Lula.

Os atos de 8 de janeiro são uma das razões que levaram a PGR a denunciar o ex-presidente 33 aliados por um suposto plano de golpe de Estado para tentar permanecer no poder. 

A Primeira Turma do STF terá sessões em 25 e 26 de março para decidir se Bolsonaro e mais sete viram réus. Eles são acusados no denominado Núcleo 1, que, conforme a investigação da Polícia Federal, era formado pelos líderes da suposta trama golpista. 

O grupo foi acusado de praticar os crimes de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.