nesta terça

Fase preliminar: STF decide que não há irregularidades na continuidade do processo contra Bolsonaro e aliados

Os membros da Primeira Turma vão votar, agora, o mérito da denúncia e definir se vão tornar o ex-presidente e outras sete pessoas réus no caso de tentativa de golpe de Estado

Por Ana Paula Ramos
Atualizado em 25 de março de 2025 | 17:45

BRASÍLIA - A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, nesta terça-feira (25), que não há irregularidades na continuidade do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados da suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. 

Nesta fase, foram analisadas as chamadas questões preliminares, que são apontamentos processuais levantados pelas defesas dos acusados com alegações sobre os trâmites formais adotados pela Corte. 

Confira quais foram as questões analisadas: 

Contra impedimento, suspeição ou incompatibilidade de ministros 

Votaram a favor: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Luiz Fux e Carmén Lúcia 

Os ministros entenderam que não havia motivos para o impedimento do relator, Alexandre de Moraes, e a suspeição dos ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin. Além disso, os pedidos haviam sido julgados no plenário do STF. Na ocasião, o recurso para excluir Zanin da ação foi rejeitado por unanimidade no plenário do STF. As análises dos pedidos de impedimento de Alexandre de Moraes e Flávio Dino terminaram com o placar de 9 votos para rejeitar o recurso contra um para acatá-lo — do ministro André Mendonça. 

“Não vou gastar muito tempo com isso, uma vez que, recentemente, em sessão plenária do Supremo Tribunal Federal, por 9 votos a 1, o plenário do Supremo Tribunal Federal rejeitou a arguição de suspensão e impedimento em relação a mim, por 9 votos a 1 também rejeitou em relação ao ministro Flavio Dino, por 10 votos a 0, rejeitou em relação a [Zanin]. Afasto a preliminar”, afirmou Moraes. 

Favorável à competência do STF para julgamento e da Primeira Turma 

Votaram a favor: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Carmém Lúcia 

Votou contra: Luiz Fux 

Os ministros decidiram que já existe entendimento pacificado da competência do Supremo Tribunal Federal para julgamento dos atos do 8 de janeiro de 2023 e de inquéritos relacionados. Além disso, os magistrados destacaram que o regimento interno no STF prevê que a Primeira Turma é competente para julgamento de matéria penal. 

No entanto, Fux defendeu que o julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro e mais sete acusados fosse transferida da Primeira Turma para o plenário, onde os 11 ministros têm voto, para conferir maior legitimidade à ação. 

“Essa matéria não é tão pacífica assim. Já foi mudada, remudada e voltou-se à tese originária várias vezes”, avaliou sobre a resolução no regime interno do STF que permite o julgamento dessa denúncia na Primeira Turma. 

A defesa de Bolsonaro pediu que o caso fosse julgado em plenário, e não apenas na Primeira Turma.  

Em seu voto, no entanto, Moraes apontou dispositivo do regimento interno que prevê que presidente da República deve ser julgado pelo plenário não se aplica a ex-presidente. 

Contra os pedidos de nulidades 

Votaram a favor: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Luiz Fux e Carmén Lúcia 

Os ministros afastaram todos os pedidos de nulidade feitos pelas defesas. 

Em seu voto, o relator Alexandre de Moraes explicou que as nulidades se referem a eventual ferimento ao devido processo legal. No caso em questão, foram apontados pelos advogados:  

  • ausência de o a provas

  • dumping (excesso de provas para confundir)

  • provas ilícitas

  • fishing expedition (pesca probatória) e  

  • ofensa a indivisibilidade do processo, pelo fatiamento da denúncia. 

Em seu voto, Moraes rebateu a acusação de ‘document dump’, que é um grande volume de provas, de forma desorganizada. O relator negou que a Procuradoria-Geral da República foi buscar provas para confundir, mas afirmou que o material é resultado das investigações. 

“Nós não podemos confundir a complexidade e o tamanho da investigação da PF com document dump. Não há nenhuma estratégia da PGR em atolar a defesa com um caminhão de documentos”, disse Moraes. 

Contra o pedido da defesa de Bolsonaro para aplicação das regras de juiz de garantias 

Votaram a favor: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Luiz Fux e Carmén Lúcia 

A Primeira Turma do STF negou pedido da defesa de Jair Bolsonaro para aplicação das regras de juiz de garantias, ou seja, prever um juiz para a fase anterior à denúncia, e outro para a fase do julgamento. 

Segundo o relator, a lei prevê que as regras não se aplicam a processo originário de Tribunal, como é o caso do inquérito que apura a suposta tentativa de golpe. 

Contra o pedido de anulação da delação de Mauro Cid 

Votaram a favor: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Luiz Fux e Carmén Lúcia 

Os ministros da Primeira Turma acompanharam o voto do relator, Alexandre de Moraes, para manter a delação do tenente-coronel Mauro Cid. Ele destacou que todos os depoimentos foram acompanhados pelos advogados do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Moraes defendeu que a própria defesa afirmou, durante o julgamento nesta terça-feira, que Cid cumpriu com sua colaboração e tinha conhecimento dos fatos na condição de auxiliar do presidente. 

Próximos os 

A Primeira Turma vai julgar, na manhã de quarta-feira (26), o mérito da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para definir se os integrantes do "núcleo crucial" vão se tornar réus por tentativa de golpe de Estado. De acordo com a investigação, fazem parte do grupo principal:

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro;
  • Almir Garnier Santos, almirante da Marinha durante o governo Bolsonaro;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro;
  • Alexandre Ramagem, deputado federal e presidente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão Bolsonaro;
  • Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro;Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro;
  • Walter Braga Netto, candidato à vice-presidência na chapa de Bolsonaro em 2022; foi ainda ministro da Defesa e da Casa Civil durante o governo Bolsonaro.

O grupo foi acusado de praticar cinco crimes. São eles: organização criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. A pena total máxima pode chegar a 43 anos e 4 meses de prisão.

Rito 

Na próxima e última etapa, a Primeira Turma avalia se a acusação apresentou elementos suficientes para a abertura de uma ação penal contra os acusados. Essa fase deve ser finalizada na sessão de quarta-feira (26). Se a denúncia for aceita pela maioria dos ministros, os investigados serão considerados réus e é iniciado o trâmite de uma ação penal. 

Em seguida, acontece o interrogatório dos réus e a oitiva das testemunhas. Nessa etapa, ocorre a audiência de instrução e julgamento, onde são produzidas as provas testemunhais, periciais e documentais. Também são ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, e há esclarecimentos de peritos, se necessário, para assegurar o contraditório e a ampla defesa.  

Depois, é aberto o prazo para as alegações finais, momento em que as defesas podem contestar as provas apresentadas pela PGR na denúncia e argumentar em favor da inocência dos réus. Após as alegações finais, o Supremo agendará a data para o julgamento dos acusados. 

Outros julgamentos

Entre esta terça-feira e quarta-feira, a Primeira analisa a situação de oito das 34 pessoas denunciadas pelo procurador-geral Paulo Gonet. Eles fazem parte do "núcleo crucial". Os outros 26 investigados por suposta tentativa de golpe de Estado, em fevereiro deste ano, foram organizados em mais quatro núcleos:

  • o de gerenciamento de ações, que seria responsável por sustentar os atos que consumariam o suposto golpe de Estado;
  • o de ações táticas, composto por militares da ativa e da reserva, que teria elaborado planos como o de ass o presidente Lula;
  • o de desinformação, que teria como missão criar e disseminar desinformação sobre o processo eleitoral;
  • e o de desdobramento, composto apenas pelo empresário Paulo Figueiredo, incumbido de uma operação para propagar desinformação “golpista” no exterior.

O presidente da Turma, Cristiano Zanin, marcou as datas dos julgamentos de dois desses núcleos. O julgamento do grupo de militares foi agendado para 8 e 9 de abril, enquanto o do núcleo apontado como responsável por elaborar um suposto plano de tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, está marcado para 29 de abril.