DEPOIMENTO AO STF

Bolsonaro perguntou sobre via jurídica para questionar resultado das eleições, diz ex-AGU

Bruno Bianco afirmou que respondeu a Bolsonaro que ‘as eleições foram transparentes’ e o ex-presidente, no momento, ‘se deu por satisfeito’

Por Lucyenne Landim
Atualizado em 29 de maio de 2025 | 10:24

BRASÍLIA - O ex-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Bruno Bianco, confirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) o chamou em uma reunião, depois das eleições de 2022, para consultá-lo se havia algum caminho jurídico que pudesse questionar o resultado das urnas. De acordo com ele, comandantes das Forças Armadas estavam presentes.

Na época, Bolsonaro perdeu a tentativa de reeleição para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bianco falou nesta quinta-feira (29) em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ação penal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado.  

Ao ser questionado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, se depois da derrota houve alguma reunião em que Bolsonaro questionou se havia uma possibilidade jurídica de reverter o resultado, Bianco respondeu: 

“Houve uma reunião. O presidente foi específico sobre como ocorreu o pleito eleitoral. Me perguntou se eu tinha visto problema jurídico e eu disse que não, que [a eleição], na minha ótica, ocorreu de maneira correta e legal, sem nenhum problema jurídico”. 

O ex-AGU frisou sua resposta: “Ele [Bolsonaro] perguntou se eu via algo que poderia ser feito na via jurídica. Eu disse que não, que as eleições foram transparentes. O presidente da República, pelo menos na minha frente, se deu por satisfeito”. 

Bianco relatou que foi uma “interação bastante breve” com Bolsonaro e que a pergunta foi feita em pé, sem que ele se sentasse à mesa na reunião. Em seguida, contou que se retirou do local.  

Bruno Bianco ainda afirmou que não tem “total lembrança” dos presentes na reunião, mas citou o então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, e generais das Forças Armadas. “Eu não sei se todos, mas eu acho que todos”, disse. Ele também disse não se recordar se o então ministro da Justiça, Anderson Torres, estava presente. 

O STF colherá, até a próxima segunda-feira (2), os depoimentos das testemunhas dos réus do chamado "núcleo crucial" da suposta trama de golpe. Além de Bolsonaro, a lista tem os ex-ministros Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto.

A lista tem ainda o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier e o tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro. Eles viraram réus em 26 de março.