O médico que sobreviveu ao ataque criminoso na Barra da Tijuca no início madrugada de quinta-feira (5) teria levado 14 tiros, sendo dois de raspão, que provocaram 24 perfurações. Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, ou por uma cirurgia que durou quase 10 horas no Hospital Municipal Lourenço Jorge, para onde foi levado logo após o crime. Ele teve lesões no tórax, intestino, pélvis, mão, pernas e pé. Dois projéteis ficaram alojados em seu corpo e um foi retirado pelos médicos, que vão encaminhar o material para a Polícia Civil, que deve analisar o projétil. A vítima continua com uma bala alojada na escápula, próximo ao ombro.

Daniel Proença estava estável até a mais recente atualização desta reportagem. Ele foi transferido para um hospital particular lúcido e respirando sem ajuda de aparelhos. Ele foi socorrido ao hospital municipal, que fica a 10 km do local do crime, e entrou na sala de cirurgia 14 minutos após chegar à unidade. O tempo de atendimento foi crucial para sobreviver ao ataque. A cirurgia teve a participação de 18 profissionais: quatro ortopedistas, quatro anestesistas, quatro cirurgiões gerais, um cirurgião vascular, dois enfermeiros e três técnicos de enfermagem.

Acompanhe: Veja tudo que se sabe até agora sobre os três médicos assassinados no Rio de Janeiro 

As informações sobre os procedimentos e o estado de saúde de Daniel Proença foram publicadas nesta sexta (6) pelo jornal O Globo. Formado pela Faculdade de Medicina de Marília (SP) em 2016, ele é especialista em cirurgia ortopédica e estava no Rio de Janeiro para participar do Minimally Invasive Foot Ankle Society (Mifas) – Congresso Internacional de Cirurgia Minimamente Invasiva do Pé e Tornozelo –, assim como os três colegas mortos a tiros no quiosque à beira-mar em frente ao Windsor Hotel, na avenida Lúcio Costa, na Barra. 

O estabelecimento é o mais luxuoso do bairro, que fica em área nobre da capital carioca. Era lá que as vítimas estavam hospedadas e acontece o Mifas, que teve a programação mantida e começou ontem, apesar do crime bárbaro. O quiosque da Naná, onde ocorreu a chacina, voltou a funcionar normalmente horas após, ainda com marcas dos tiros. Peritos recolheram 33 estojos (sobras de projéteis) de pistola calibre 9 mm de cano curto onde os três médicos foram assassinados e um quarto ferido na madrugada de quinta.

Polícia encontra corpos de traficantes que teriam matado médicos por engano

A Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou na noite de quinta-feira quatro corpos. A suspeita é que ao menos dois deles seriam de suspeitos de envolvimento no crime na Barra da Tijuca, horas antes. Três corpos estavam dentro de um veículo na Rua Abrahão Jabour, na zona oeste do Rio. Em um segundo veículo, no bairro Gardênia Azul, foi encontrado o quarto corpo. Os nomes das vítimas não haviam sido informados até a publicação desta reportagem. A polícia carioca informou apenas se tratarem de traficantes.

Para os investigadores, a descoberta desses corpos reforça a hipótese de os médicos terem sido baleados por engano, após um deles ser confundido com um miliciano. Momentos antes do assassinato dos três médicos, a Polícia Civil do Rio interceptou conversa telefônica que os investigadores consideram um indício de que as vítimas foram mortas por engano. Na ligação, interceptada com autorização judicial durante investigação que já estava em andamento sobre milicianos que atuam na zona oeste do Rio, um homem diz a outro que “acho que é Posto 2?” e recebe uma resposta que é inaudível. 

A voz seria de Juan Breno Malta, conhecido como BMW e principal auxiliar do Philip Motta, o Lesk, ambos, segundo a polícia, ligados à milícia e ao tráfico. Lesk teria rompido com milicianos para aderir à facção criminosa Comando Vermelho. Segundo a polícia, BMW havia recebido a informação de que o miliciano Taillon Alcântara Pereira Barbosa estava no quiosque da Naná e tentou explicar o local para um comparsa incumbido de matá-lo. O quiosque da Naná, no entanto, fica entre os postos 3 e 4 da orla da Barra da Tijuca.

O ataque foi filmado por câmeras de segurança e os assassinos não usavam máscara ou qualquer ório que poderia dificultar a identificação. Tampouco tiveram a preocupação de esconder as placas do carro branco usado no crime. Havia outras pessoas no quiosque, clientes e funcionários do estabelecimento. Mas não havia um agente de segurança por perto.  

Hipótese de crime político foi levantada porque irmão de Sâmia Bomfimé uma das vítimas

Um dos três médicos assassinados, Diego Ralf Bomfim tinha 35 anos, era irmão e cunhado, respectivamente, dos deputados federais Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ). Baleado, ele chegou a ser levado com vida para o Hospital Lourenço, mas não resistiu. 

O governador Cláudio Castro (PL) afirmou não haver dúvida de que se trata de uma execução e não descartou nenhuma hipótese. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou ter colocado a Polícia Federal à disposição das investigações e levantou a hipótese da relação do crime no Rio com atuação de Sâmia Bomfim e Glauber Braga. Essa linha de investigação ainda não foi descartada.

Confira quem são os outros mortos no crime na Barra:

  • Marcos de Andrade Corsato: tinha 62 anos e morreu na hora. Ele faria 63 anos na próxima semana e era diretor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
  • Perseu Ribeiro Almeida: tinha 33 anos e fez aniversário na terça (3). Ele morreu na hora. Deixou dois filhos, de 11 e 3 anos. Morador de Jequié, na Bahia, era especialista em cirurgia do pé e tornozelo pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.