A possibilidade de envenenamento no caso da torta de frango que vitimou a idosa Cleuza Maria de Jesus Dias, de 75 anos, em Belo Horizonte, foi descartada nesta quarta-feira (4 de junho) pelo advogado de defesa do padeiro, Magno Dantas. Ele conversou com a reportagem de O TEMPO e confirmou que o laudo do Instituto Médico Legal (IML), feito a partir dos fluidos das três pessoas que foram intoxicadas (sangue, soro do sangue e urina), comprovou a inocência de seu cliente. A Polícia Civil foi questionada e a reportagem aguarda retorno.
De acordo com Magno, o laudo atesta apenas que não havia veneno na torta de frango. Porém, as causas exatas da intoxicação ainda estão sendo investigadas pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). “O laudo apontou que não havia nenhuma substância que pudesse causar envenenamento. As causas reais ainda estão sendo investigadas e o caso está em segredo de Justiça. Mais pessoas ainda serão ouvidas”, revelou.
O advogado contou que o padeiro, que tem 55 anos, não se surpreendeu com o resultado. “Ele foi ridicularizado no bairro onde morava, perdeu o emprego, perdeu renda e sofreu bastante. Agora está provando que é inocente e vai buscar reparação pelos danos que sofreu”, pontuou Magno.
Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que autos deste procedimento investigativo no momento tramitam sob segredo de justiça.
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Padeiro nega envenenamento em entrevista
Em entrevista a O TEMPO no dia 24 de abril, o padeiro, que pediu para não ser identificado, negou qualquer responsabilidade sobre o mal-estar dos clientes que consumiram o alimento e apontou problemas no armazenamento de ingredientes e produtos prontos pela padaria.
Na gravação, ele foi enfático: “Não houve envenenamento de torta porque eu não mexo com veneno, nem levei veneno”. Segundo ele, a receita foi feita como de costume, com farinha de trigo, manteiga, ovos, sal, cebola, frango desfiado e colorau”, explicou.
Ele também contesta a versão de uma balconista, que afirmou ter ouvido o padeiro fazer ameaças pelo telefone. “Ela criou isso da cabeça dela. Vai responder em processo, porque eu vou processar ela e ela vai ter que provar”, afirmou. Além disso, o rapaz disse que a responsabilidade pela torta não é mais dele após o preparo: “A balconista vai lá, tira do freezer, esquenta. Esse freezer armazenava frango cru, coxinha, resto de comida… tudo misturado. Era uma bagunça”, detalhou o padeiro.
O padeiro, de 52 anos, que trabalhava em uma padaria no bairro Serrano, na região Noroeste de Belo Horizonte, investigada pela internação de três pessoas em estado grave após terem consumido uma torta de frango do local, promete processar o dono do estabelecimento. O profissional… pic.twitter.com/Qv0sWNMKee
— O Tempo (@otempo) April 24, 2025
O caso
No dia 27 de maio de 2025, a idosa Cleuza Maria de Jesus Dias, de 75 anos, faleceu. Ela era uma das três pessoas que foram internadas por uma suposta intoxicação após comer a torta de frango comprada em uma padaria no bairro Serrano, na região da Pampulha, em Belo Horizonte.
Cleuza estava internada após sentir um mal-estar no dia 22 de abril, um dia após consumir o salgado que, supostamente, estaria estragado. Duas semanas depois da internação, o filho da idosa, Jorge Dias, afirmou que a mãe havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) e estava hospitalizada em estado gravíssimo. A hipótese com relação à condição do alimento também é investigada. A PCMG não descarta nenhuma hipótese.
A idosa e o casal de sobrinhos, de 23 e 24 anos, foram internados em estado grave após consumirem uma torta de frango e empadas vendidas na padaria. Eles começaram a sentir mal-estar no dia 22 de abril, um dia após consumirem os produtos. De acordo com a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), os funcionários da padaria confirmaram que os produtos estavam com a aparência de estragados e devolveram o dinheiro para os clientes.
Para os militares, o proprietário do estabelecimento informou que os alimentos teriam sido feitos no dia 19 de abril. Os produtos foram preparados por um padeiro que teria sido contratado como freelancer, mas com o qual ele não mantinha contato direto. O padeiro foi ouvido pela Polícia Civil, mas foi liberado. Na ocasião, ele informou, inclusive, que teria levado uma torta para casa e que ninguém se sentiu mal.
Exames descartaram botulismo
Uma das linhas de investigação das autoridades apontava para a possibilidade de botulismo — doença bacteriana grave causada pela ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Entretanto, exames feitos a pedido do governo de Minas Gerais descartaram a possibilidade.