O presidente dos EUA, Donald Trump, ironizou a derrota da Alemanha na Segundo Guerra Mundial e a fim do regime nazista durante visita do chanceler do país europeu, Friedrich Merz, à Casa Branca. "Não foi um dia agradável para vocês", disse o republicano.
Trump recebeu Merz nesta quinta-feira (5) na Casa Branca para tratarem, entre outros assuntos, da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Depois de reunião fechada, ambos concederam entrevista coletiva no Salão Oval, na Casa Branca.
O chanceler pediu para o presidente usar o seu poder à frente dos EUA para forçar a retirada russa do território ucraniano, a exemplo da operação que pôs fim à Segunda Guerra Mundial, conhecida como "Dia D". Em 6 de junho de 1944, tropas dos EUA, Reino Unido e Canadá realizaram a Operação Overlord na Normandia, no norte da França, que é considerada crucial para a derrota do regime nazista.
Trump interrompeu a fala de Merz com uma piada: "Aquele não foi um dia agradável para vocês". A brincadeira foi em referência à queda de Adolf Hitler em decorrência da atuação do Exército dos EUA na operação.
O alemão discordou ao lembrar Trump que aquele foi o fim da ditadura nazista em seu país. "A longo prazo, senhor presidente, esta foi a libertação do meu país da ditadura nazista", disse.
"Sabemos o que devemos a vocês. É por isso que estou dizendo que os EUA estão, mais uma vez, em uma posição muito forte para fazer algo sobre esta guerra [entre Rússia e Ucrânia] e acabar com ela", disse Friedrich Merz, chanceler alemão.
Trump e o "bullying diplomático" q175j
Os frequentes episódios de constrangimento protagonizados por Donald Trump diante de líderes mundiais desde que assumiu seu segundo mandato presidencial nos EUA são parte de uma estratégia de intimidação e "bullying", até então inédita na diplomacia global, avalia Denilde Holzhacker, cientista política e professora de Relações Internacionais da ESPM.
O Salão Oval se tornou ambiente "hostil" para convidados, avalia professora. Ela destaca os encontros televisionados na Casa Branca entre o republicano e os líderes ucraniano, canadense e, mais recentemente, sul-africano, que classifica como "alvos mais mais fáceis" de serem atingidos e intimidados por Trump.
"É importante lembrar que Trump faz isso apenas com determinados países. Ele escolhe seus 'targets' [alvos], e são sempre quem ele entende que tem fragilidades a explorar. Por outro lado, com governos que ele sabe que têm capacidade de revidar ou tomar ações concretas depois, a atitude é muito distinta. O Macron, por exemplo, foi questionado, mas num nível político, não foi humilhado. Duvido que o Xi Jinping, ou mesmo o Putin, também seria", disse Denilde Holzhacker, cientista política e professora de Relações Internacionais da ESPM.
A professora pontua que, mesmo entre os episódios de tensões causadas por Trump e seu entorno, foram dados tratamentos diferenciados. "O premiê do Reino Unido [Keir Stammer], que foi questionado na Casa Branca, não foi de forma vexatória como aconteceu com o ucraniano [Volodymyr Zelensky], que depende mais da ajuda dos EUA", exemplifica. "Então, ele usa essa tática de constrangimento quando sabe que poderia ter mais sucesso", completa.
"É como a lógica do valentão que se impõe para o outro que ele sabe ser mais frágil. Por isso, termos como 'bullying diplomático' têm sido utilizados por analistas para descrever esses comportamentos de Trump. (...) Eu chamaria de bullying na diplomacia, porque o que ele faz é pouco diplomático. Mas é, sim, uma imposição pelo poder e pela força", disse Denilde Holzhacker.