A convite da deputada federal Célia Xakriabá, minha companheira de luta e do PSOL, visitei, na última semana, a aldeia Barreiro Preto, Território Xakriabá no Norte de Minas Gerais. Partimos de Belo Horizonte até Itacarambi, cortando 12 horas de asfalto e mais duas horas de estrada de chão até a aldeia. Um trajeto longo, ao mesmo tempo pequeno, diante da grandeza de Minas Gerais e da diversidade da paisagem que transita da Mata Atlântica para o Cerrado, e se impõe com toda a magnitude das águas do Rio São Francisco. Nosso Estado sempre me surpreende.
Além de mim, a caravana organizada pela deputada para conhecer seu território, contou com a presença da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo; a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; a presidenta da Funai, Joenia Wapichana; representantes do Ministério Público Federal e do Estadual; da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e de outras instituições e organizações dispostas a contribuir na luta por justiça socioambiental para o povo Xakriabá.
Foram dois dias intensos, com debates, jogos indígenas, desfile de vestimentas, shows e muita troca de experiências. Mais do que levar as demandas do povo Xakriabá aos gabinetes de Brasília, Célia levou as autoridades até o chão do território, para vivenciar e compreender de perto as demandas de saúde das pessoas e dos animais, de educação popular, de melhoria na estrada, de segurança alimentar e de políticas de fortalecimento da economia criativa. Esse deslocamento da política institucional para os territórios, promovido pela Bancada do Cocar, é uma iniciativa histórica de reconhecimento de um Brasil continental, que infelizmente ainda coloca em primeiro plano o poder das elites conservadoras em detrimento dos direitos das populações tradicionais e do meio ambiente.
A organização popular do povo Xakriabá em defesa de seus direitos, tendo Célia à frente como representante parlamentar, reforça como nós da geração inspirada por Marielle Franco somos parte dos territórios e fruto das lutas pela transformação social. Seja nas aldeias indígenas ou nas favelas das grandes cidades, são os movimentos sociais que nos dão força para continuar a disputar a política, um espaço dominado por homens brancos, machistas e engravatados. Do Barreiro Preto às periferias do Barreiro de BH, a nossa força vem do coletivo.
Na aldeia Barreiro Preto, conheci as cerâmicas xakriabás, os artesanatos, comi a famosa paçoca feita de carne e farinha, tomei suco de umbu e comi arroz com pequi. Conheci o céu mais bonito que já vi. Fui recebida na casa de pessoas extremamente acolhedoras, como o Sr. Hilário e Dona Bia, pai e mãe da Célia. Foi difícil vir embora. Compartilhar o tempo, a comida, o teto e afeto com os xakriabás me fez pensar sobre toda a degradação que o sistema capitalista impõe sobre nossas vidas.
Parti da aldeia refletindo como pudemos nos acostumar com um céu em que quase não conseguimos ver as estrelas. Como nos acostumamos com os asfaltos, os desmatamentos, os rios poluídos. Como nos acomodamos às enchentes e naturalizamos a crise climática, as ondas de calor e de seca extrema. Foi conhecendo a organização do povo Xakriabá que voltei mais fortalecida para lutar por nossas águas, matas e serras, por justiça social para todas as pessoas e pelos direitos dos animais. A luta nos territórios indígenas, no campo e na cidade está conectada. Não existe planeta B, e o nosso futuro é ancestral.