The White Lotus e a saturação da fórmula 35t52

Situada dessa vez na Tailândia, e tentando carregar a série nos mesmos moldes das temporadas anteriores, a produção até acerta na construção dos núcleos e na montagem de elenco, com personagens que de cara geram interesse do público. 
 
Porém, com um ritmo lento e repetitivo no desenvolvimento das tramas, além de um final no máximo morno, é possível que estejamos vivenciando a dificuldade de Mike White (showrunner da produção) em desenvolver tramas que nos surpreendam. 
 
Começando pela parte técnica, não há o que questionar. Tudo o que se espera está presente: paisagens paradisíacas, um hotel luxuoso com quartos que te convidam a sentir o conforto de seus estabelecimentos, transições de cena com imagens do oceano, trilha sonora que funciona como um personagem à parte... além, é claro, de manter a boa direção, e as incríveis atuações. 

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As dinâmicas de relacionamento propostas também são interessantes: três amigas de infância em momentos de vida dissonantes, um casal incomum lidando com a falta de conexão e diálogo, e uma família tendo que lidar com o desapego dos próprios vícios e comportamentos. E, novamente, o elenco entrega muito, com personagens que — arrisco dizer — são mais interessantes do que a maioria daqueles apresentados na temporada anterior. 
 
O problema, na verdade, é no desenvolvimento de cada trama, levando pelo menos quatro episódios até que alguma intriga “digna de White Lotus” realmente comece a acontecer.  

E, durante essa lenta construção, somos conduzidos por uma série de repetições de padrões que chegam a ser cansativas, como Rick (Walton Goggins) perdendo a cabeça sem uma aparente explicação (recebemos só no 4º episódio), Timothy (Jason Isaacs) recebendo ligações de seus sócios, e Gaitok (Tayme Thapthimthong) tentando um encontro com Mook (Lalisa Manobal).  

O que acaba comprometendo as clássicas cenas de café da manhã e jantar com as quais já estamos acostumados, que sempre eram carregadas de conflitos. Nos primeiros dias é como se eles nem tivessem o que dizer uns aos outros. Bom, salvo o núcleo de Jacklyn (Michelle Monaghan), Kate (Leslie Bibb) e Laurie (Carrie Coon), que só falha no último episódio. 
 
A partir do momento em que a série engata, a construção da trama começa a se justificar e entrega bons momentos, como a festa no iate, as três amigas se envolvendo com um grupo de russos, e uma participação bizarramente incrível de Sam Rockwell. Além também das boas trocas entre Saxon (Patrick Schwarzenegger) e Chelsea (Aimee Lou Wood) — outros dois que se destacam nessa temporada. 
 
E eis que chega o episódio final, extremamente antecipado pelo canal na mídia especializada, com o elenco citando as clássicas frases de efeito “eu não assistiria com minha família”, “tudo o que você imagina que vai acontecer, está errado” ou “as pessoas ficarão chocadas”. 
 
Para, na realidade, recebermos fechamentos que pareceram simples, como o de Jacklyn e suas amigas; covardes, como o da família Ratliff; ou até mesmo mal atuados, como o tiroteio no final. E não há discurso bonito de Laurie ou interação divertida entre Belinda (Natasha Rothwell), Zion (Nicholas Duvernay) e Greg (Jon Gries), que salvem o finale da sensação de “não recebemos o que foi prometido”. 
 
Portanto, numa temporada cheia de altos e baixos, The White Lotus começa a ligar o alerta de que pode começar a perder a audiência. Resta saber se Mike White vai conseguir alinhar os pontos mais criticados, para conseguir entregar uma quarta temporada que volte a nos impressionar. 
 
The White Lotus está disponível no serviço de streaming Max, com as suas três temporadas completas.

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