Em um país marcado por altos índices de informalidade, a capacidade de adaptação do trabalhador brasileiro tem gerado novas formas de enxergar o mercado de trabalho. É o caso do assessor de aquisição de carro novo, uma função recente que atende a um público disposto a pagar para evitar erros na compra de um veículo. 

O profissional pesquisa modelos, avalia o custo-benefício, acompanha o cliente às concessionárias e negocia com os vendedores. É uma figura ainda pouco conhecida, mas que já começa a ganhar espaço em grandes centros urbanos, especialmente entre consumidores exigentes ou pouco familiarizados com o setor automotivo.

Esse é apenas um entre diversos exemplos de ocupações que vêm surgindo à margem das classificações tradicionais. Em comum, todas refletem mudanças no comportamento do consumidor, o avanço da tecnologia e uma crescente busca por soluções personalizadas.

O que motiva essas novas funções

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que mais de 25 milhões de brasileiros atuam como autônomos. Boa parte desses profissionais está em ocupações que não existiam há uma década, e que sequer constam nas classificações formais do mercado de trabalho. A ausência de vínculos empregatícios tradicionais, longe de representar estagnação, tem motivado a criação de serviços voltados para nichos bastante específicos.

Algumas dessas profissões recentes incluem:

Organizador digital: especialista em otimizar ambientes virtuais, organizando arquivos na nuvem, limpando caixas de e-mail e promovendo rotinas mais eficientes no uso de dispositivos.

Terapeuta holístico para pets: profissional que aplica Reiki, cromoterapia e cristaloterapia em animais, prometendo equilíbrio energético para os pets.

Consultor de vendas em marketplaces: atua como orientador estratégico para pequenos lojistas que desejam melhorar seu desempenho em plataformas como Shopee, Amazon e Mercado Livre.

Especialista em LinkedIn: ajuda profissionais a melhorarem sua imagem e visibilidade na maior rede de networking corporativo do mundo.

Agente de estilo de vida minimalista: conduz clientes em processos de descarte e reorganização com foco em consumo consciente e qualidade de vida.

Empreender, mais por necessidade do que por vocação

Um levantamento do Sebrae mostra que três em cada quatro brasileiros preferem empreender a trabalhar com carteira assinada. Embora nem sempre esse desejo se concretize, o dado revela uma tendência clara: há uma disposição crescente para buscar autonomia, mesmo diante dos riscos.

Ao mesmo tempo, o relatório “Future of Jobs”, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, prevê que até 2027 cerca de 44% das habilidades exigidas no mercado de trabalho atual precisarão ser atualizadas.

Em vez de criar soluções genéricas para grandes públicos, muitos brasileiros têm apostado em serviços altamente específicos, voltados para dores reais de grupos reduzidos, mas dispostos a pagar por um atendimento diferenciado.