Na viagem em que recebeu joias milionárias do regime da Arábia Saudita para entregar ao então presidente Jair Bolsonaro (PL), o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tratou do processo de venda de ativos da Petrobras e da possibilidade de o Brasil ar a integrar a Opep+, uma versão mais ampla da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A informação consta de um telegrama enviado pela embaixada brasileira na Arábia Saudita para o Ministério das Relações Exteriores.
De acordo com o telegrama, obtido pelo portal "G1" por da Lei de o à Informação (LAI), o chefe da assessoria especial de Relações Internacionais do ministério de Minas e Energia, Christian Vargas, questionou os sauditas sobre a possibilidade de o Brasil integrar a Opep+, organização que inclui os 13 países da antiga Opep e mais outras 10 nações produtoras, tendo companhias de capital aberto no setor de petróleo.
"A Petrobras a, no momento, por processo de desverticalização e de alienação de seus ativos 'downstream', como parte de reformas do setor de energia que apontam para a crescente liberalização do mercado, no qual os entes estatais encontram limitações legais para intervir", disse o assesor do MME, de acordo com o telegrama, que é assinado por Marcelo Della Nina e foi enviado no dia 15 de novembro de 2021, três semanas após a reunião de Bento Albuquerque com Abdulaziz bin Salman bi Abdulaziz Al Saud, que cuida de área congênere no país árabe.
Abzulaziz, então, afirmou que outros países produtores de petróleo, como Noruega e Reino Unido, fizeram regulações no setore de energia, de forma que o Estado se tornou dinamizador das atividades de hidrocarbonetos. "Asseverou, ainda, que 'não seria necessário maior grau de participação governamental do que o já existente no Brsil' para participar das decisões da Opep+", disse o saudita.
O telegrama não trata da entrega de presentes à comitiva brasileira. Nesa ocasião, foram entregues duas caixas de joias. Uma, de valor estimado em R$ 16,5 milhões, foi apreendida pela Receita no aeroporto de Guarulhos e nunca foi liberada apesar de todos os esforços de Bolsonaro e seu entorno para tal. A outra, chegou até o presidente da República, que a incorporou em seu acervo pessoal. Houve ainda uma terceira caixa de joias, essa entregue diretamente a Bolsonaro, em outra ocasião, pelos sauditas.
As caixas possuem relógios de ouro e diamantes, canetas, abotoaduras, rosários e diversos outros itens de marcas de luxo e alto valor de mercado.
O recebimento das joias gerou investigações da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União (CGU) e do Ministério Público Federal (MPF), além de ações do Tribunal de Contas da União (TCU), que determinou a devolução, já feita, dos dois pacotes de itens de luxo que estavam com Bolsonaro. O presidente também prestou depoimento à PF sobre o assunto.
Além disso, a Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle do Senado, quer investigar se os presentes podem ter sido propina em troca da venda de uma refinaria da Petrobras na Bahia. O senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que quer saber se a refinaria Landunpho Alves para o fundo árabe Mubadala Capital teria relação com o episódio.
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