NA PAULISTA

Tarcísio diz que condenados pelo 8 de janeiro só estavam ‘conhecendo Brasília’ e ataca inflação

Governador falou em manifestação convocada para defender anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro; proposta está emperrada na Câmara dos Deputados

Por Renato Alves
Atualizado em 06 de abril de 2025 | 16:26

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro (PL) lidera na tarde deste domingo (6 de abril) uma nova manifestação para pressionar pela anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. Dessa vez, o evento acontece na avenida Paulista, em São Paulo. 

A mobilização foi convocada por Bolsonaro e aliados, incluindo o pastor Silas Malafaia, depois da realizada na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em março, que teve público aquém do esperado. 

Na Paulista, Bolsonaro subiu ao trio elétrico pouco antes das 14h, ao lado de sua mulher, Michelle Bolsonaro (PL), que não foi à manifestação no Rio. Assim como a anterior, a manifestação em São Paulo começou com o Hino Nacional.

Ao todo, 10 pessoas foram escaladas para discursar. Entre elas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que citou a alta dos preços de alimentos para defender a volta de Bolsonaro à Presidência da República. 

Tarcísio disse ainda que a anistia é uma “pauta política, humanitária e urgente” e serviria para “pacificar” o país. “Pedir anistia não é uma heresia, é algo justo, real e importante”, afirmou.

“Temos urgência porque precisamos pacificar o Brasil. Olhar para frente e discutir o que interessa. Estamos perdendo o bonde. Temos que pensar no nosso crescimento. Por que a inflação está tão cara? Por que vocês estão pagando caro no ovo? E se está tudo caro, volta Bolsonaro”.

O governador alegou que os condenados pelos atos de 8 de janeiro são “pessoas que estavam vendo o que acontecia, conhecendo Brasília” na data em que houve a invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes. 

No fim do discurso, Tarcísio se dirigiu diretamente a Bolsonaro: “O senhor faz falta e a injustiça não vai prevalecer. Tenho certeza que o senhor vai voltar para trazer esperança para essas pessoas”. Em seguida, pediu o coro “volta, Bolsonaro”.

Nikolas chama Moraes de ditador e covarde

Já o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) e chamou os ministros de “ditadores de toga”.

“Ditadores de toga, principalmente como Alexandre de Moraes, que se utilizaram do dia 8 para nos amedrontar. Se lascou, olha a gente aqui. Essa é a resposta para você, seu covarde”, afirmou.

“E digo mais, fizeram de tudo para poder massacrar a maior liderança política deste país, que é o Bolsonaro. Digo e repito: se lascou!”, prosseguiu o parlamentar.

Depois, o deputado mineiro criticou o presidente da Suprema Corte, Luís Roberto Barroso.

“Para o debochado do ministro Barroso, que falou 'perdeu, mané', primeiro, que isso é fala de bandido quando vai roubar alguém, O que você está querendo dizer com isso Barroso? Que as eleições de 2022 nós fomos assaltados? Porque, se for isso, fique em paz, que daqui um ano e meio tem eleições de novo”.

Governadores de direita participam de ato

Também participam do ato na Paulista os governadores Romeu Zema (Minas Gerais), Jorginho Mello (Santa Catarina), Ratinho Júnior (Paraná), Ronaldo Caiado (Goiás), Mauro Mendes (Mato Grosso) e Wilson Lima (Amazonas). 

Tarcísio, Zema, Jorginho e Ratinho são cotados como nomes da direita para a disputa ao Planalto em 2026. Caiado se lançou pré-candidato na última sexta (4). Mesmo inelegível até 2030, Bolsonaro ainda se coloca na corrida.

Antes do ato na Paulista, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que Bolsonaro é um “fenômeno” e que ,apesar da inelegibilidade do ex-presidente, ele é o único candidato nas eleições de 2026.

“Queremos anistia. Vamos trabalhar para isso. É por isso que estamos fazendo esses encontros. Primeiro nós precisamos ver como é que fica a situação do Bolsonaro. Mas eu tenho certeza que o Bolsonaro vai ser candidato. Tenho certeza”, ressaltou.

Caiado condena atos de 8 de janeiro, mas diz que penas são altas

Também pouco antes do início dos discursos na Paulista, Ronaldo Caiado afirmou que os atos de 8 de janeiro são indefensáveis, mas que as penas aplicadas aos participantes são pesadas demais. 

“O sentimento é nacional, de promover anistia a essas pessoas que praticaram, sim, aquela prática indefensável no dia 8 de janeiro, mas que não merecem também a pena na proporção que está sendo dada. É isso que estamos buscando: justiça”, disse.

Já Cláudio Castro cancelou a participação no ato em São Paulo por causa das chuvas fortes no Rio. “Eu já estava programado, mas por causa de todo o acontecido no Rio, não tenho como sair nesse momento”, disse em vídeo divulgado nas redes sociais.

Batom vira símbolo por causa de cabeleireira

A anistia é prioridade para a oposição, mas o projeto de lei que trata sobre o tema está travado na Câmara dos Deputados. Caso seja aprovado, ele pode beneficiar o próprio Bolsonaro e integrantes do seu governo, denunciados por tentativa de golpe de Estado.

O STF aceitou, no último dia 26, denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que acusa Bolsonaro de ter liderado organização criminosa envolvida em trama golpista. Além dele, outros sete aliados também se tornaram réus. 

Mais de 500 pessoas já foram condenadas pelo STF pelos atos de 8 janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas e depredadas por pessoas que queriam derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

As penas variam de três a 17 anos de prisão pelos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa e deterioração de patrimônio público.

Na Paulista, manifestantes exibiam batons em diferentes espaços, como camisetas e cartazes, em referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou de batom uma estátua em frente ao STF e foi condenada a 14 anos de prisão por participar do movimento que pedia intervenção militar.

Michelle Bolsonaro faz apelo a Luiz Fux

Em seu discurso, Michelle Bolsonaro chamou religiosos ao carro de som para dizer que todos ali defendem a anistia. Ela pegou um batom e disse que Débora Rodrigues é o “símbolo da luta pelo Brasil”. 

“Hoje, a nossa Débora, uma mulher comum, cabeleireira, se torna símbolo da luta pela justiça no nosso Brasil”, afirmou a ex-primeira-dama. Ela pediu que as mulheres empunhassem seus batons e convidou ao trio a filha de uma presa do 8 de janeiro. 

“Luiz Fux, eu sei que o senhor é um juiz de carreira e o senhor não vai jogar o seu nome na lama. Nós temos aqui, a Adalgiza, de 64 anos, que está doente. Não deixa a Adalgiza morrer, Luiz Fux”, disse Michelle, se referindo ao ministro do STF, que já declarou no STF que as penas impostas poderiam ser revistas.

Em cima do trio, Michelle também chamou três dos filhos de Jair Bolsonaro, o senador Flávio e os vereadores Carlos e Jair Renan, para abraçar o pai no palco. 

Ela falou do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que se licenciou da Câmara e anunciou um autoexílio nos Estados Unidos em março. “Força, Eduardo”, disse Michelle.

Sóstenes diz que pressão sobre Motta aumentará

Já o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante, afirmou que a legenda espera ter, até a quarta-feira (9), as s necessárias para pautar o regime de urgência do projeto de lei da anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro.

“Com a ajuda (dos governadores) Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e Wilson Lima esperamos ter as 257 s necessárias Aí, será pautado querendo ou não”, bradou Sóstenes em cima do trio elétrico.

A bancada do PL tenta pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a receber e colocar em votação um requerimento de urgência à proposta.  

No entanto, Motta não sinalizou publicamente qualquer disposição em levar o tema adiante. O presidente da Câmara teme que, caso acate o pleito da oposição, crie uma indisposição com o Palácio do Planalto e o STF. 

Conforme pesquisa Quaest divulgada neste domingo, 56% dos entrevistados defendem que os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro devem continuar presos por mais tempo cumprindo suas penas. Já 34% acham que eles nem deveriam ter sido presos ou já estão presos por tempo demais. 

Malafaia culpou horário e Fla-Flu por baixo público no Rio

O ato em Copacabana foi realizado em 16 de março. A expectativa da organização era receber pelo menos 500 mil pessoas, mas um laboratório ligado à Universidade de São Paulo calculou 18,3 mil pessoas presentes.  

A Polícia Militar do Rio de Janeiro chegou a anunciar 400 mil manifestantes, mas ainda assim o ato não gerou a pressão política esperada. Desde então, a proposta de anistia não caminhou na Câmara. 

Silas Malafaia chegou a comentar sobre a situação. Ele disse que tentou convencer Bolsonaro de que “domingo de manhã, no Rio de Janeiro” não seria o melhor horário para fazer o ato pela anistia. 

“Eu avisei ao Bolsonaro: ‘carioca, no domingo, acorda mais tarde. Se der praia, piora, tem jogo de Fla-Flu’. Mas ele: 'não, vamos fazer, vamos fazer. Depois fazemos um em São Paulo'”, contou Malafaia em entrevista ao portal Uol.