JULGAMENTO

Braga Netto jogava vôlei em Copacabana em 8 de janeiro e ficou surpreso com invasões em Brasília, diz testemunha dele no STF

Coronel disse ter encontrado general em praia para jogarem vôlei em 8 de janeiro de 2023, quando souberam da violência dos atos em Brasília

Por Renato Alves
Publicado em 23 de maio de 2025 | 09:29

BRASÍLIA – Testemunha de Walter Braga Netto, o coronel do Exército Waldo Manuel de Oliveira Aires disse em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta sexta-feira (23), que esteve com o ex-ministro-chefe da Casa Civil de Jair Bolsonaro em 8 de janeiro de 2023 e o general demonstrou surpresa com as invasões e depredações dos prédios públicos em Brasília. 

Aires contou, na sessão comandada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação do golpe de Estado na Primeira Turma do STF, que encontrou Braga Netto para jogar vôlei no Posto 6 da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia dos atos protagonizados por apoiadores de Bolsonaro.

“Acredito que para todo mundo foi uma surpresa. Ninguém esperava. A manifestação, até que esperávamos, mas aqueles atos de depredação ninguém esperava. Causou uma certa surpresa em todo mundo. Isso porque o histórico de manifestações de conservadores sempre foi pacifica”, disse a testemunha de defesa.

Na quinta-feira (22), Alexandre de Moraes rejeitou pedido da defesa e manteve a prisão preventiva de Braga Netto, réu por tentativa de golpe de Estado. A defesa do general alegava que não haveria fundamentos para manter a medida e pediu a revogação da prisão ou sua substituição por outras medidas cautelares.

Em parecer, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que o oferecimento de denúncia não afasta automaticamente o perigo de interferência indevida na instrução criminal, que ainda não foi iniciada. Para a PGR, é necessário resguardar seu andamento até a conclusão, para que se possa entender a extensão das condutas dos envolvidos.

Ao rejeitar o pedido, Moraes observou que, além de a situação fática permanecer inalterada, o início da instrução processual demonstrou a necessidade da manutenção da prisão preventiva por conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal.

O ministro salientou que na quarta-feira (21), o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, testemunha de acusação, afirmou em seu depoimento que Braga Netto foi responsável por orientar militares golpistas a pressionar a testemunha e sua família, por ter sido contrário ao plano golpista da organização criminosa.

Braga Netto está preso desde 14 de dezembro de 2024, após determinação do STF em resposta a representação da Polícia Federal. Ele é acusado de participar do núcleo central de uma organização criminosa que teria atuado para impedir a posse de Lula, após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

A denúncia contra ele e outros sete integrantes do chamado núcleo crucial da trama golpista, entre eles o ex-presidente, foi recebida em março deste ano.

Mourão será ouvido e STF nega pedido de comandante da Marinha para não depor

A fase de depoimentos na ação que apura uma tentativa de golpe articulada pela cúpula de Bolsonaro começou na segunda-feira (19) com testemunhas de acusação, escolhidas pela PGR.

Desde então, foram ouvidos um diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o ex-comandante do Exército general Freire Gomes, o ex-comandante da Aeronáutica brigadeiro Baptista Júnior, entre outros. Eles confirmaram que Bolsonaro participou de um plano para permanecer no poder após derrota nas urnas em 2022.

Na tarde desta sexta, Moraes vai ouvir as testemunhas de defesa do general Augusto Heleno, outro ex-ministro de Bolsonaro, e do almirante Almir Garnier Santos, comandante da Marinha no governo ado. As audiências estão marcadas para começar às 14h30. 

O senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) será ouvido como testemunha de Augusto Heleno. Mas por ser indicação comum de Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, as defesa destes também farão perguntas ao senador.

Na quinta, Moraes negou pedido do comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, para não depor como testemunha de Garnier nesta sexta. 

Olsen alegou desconhecer os fatos investigados e afirmou que não teria informações relevantes para contribuir com o processo. No entanto, para a defesa de Garnier, seu depoimento é essencial para esclarecer pontos relevantes, especialmente o contexto de uma nota à imprensa divulgada pela Marinha em novembro de 2024.

A defesa do ex-comandante da força também alegou que Olsen, na época dos acontecimentos, ocupava o cargo de comandante de Operações Navais e poderia esclarecer se houve alguma movimentação ou preparação de tropas. 

Garnier é suspeito de ter apoiado Bolsonaro no suposto golpe para impedir a posse de Lula. Ao lado de Bolsonaro e outros seis réus, ele também faz parte do chamado “núcleo principal” da trama golpista.

Em depoimento, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que chefiava a Aeronáutica no governo ado, confirmou a acusação contra Guarnier. Segundo ele, o almirante não demonstrou reação contrária e que, além dele, a única oposição foi a do então comandante do Exército, general Freire Gomes.